sábado, 1 de dezembro de 2007

A Hiportemia Mata

Quando a temperatura ambiental baixa, o Ser Humano tem a sensação desagradável de frio que é mais pronunciada quando, à temperatura baixa, se associa a humidade do ar e o vento porque todos estes factores, separadamente ou em conjunto, arrefecem o corpo. Porém, sentir frio é uma subjectividade; enquanto alguém sofre frio com uma temperatura, outro alguém não o sofrerá com essa mesma temperatura; esta sensação pode expressar-se no corpo por tremor muscular que sendo, como é, um mecanismo hipotalâmico reactivo de defesa contra o frio, é consequente à descarga na periferia de catecolaminas (dopamina, adrenalina, noradrenalina), as quais aumentam perigosamente a pressão arterial principalmente nos idosos nos quais os mecanismos de regulação cardio-vascular estão já habitualmente lentificados e alterados.

Se a exposição do corpo a baixas temperaturas for prolongada, pode surgir a hipotermia quando a temperatura corpórea desce abaixo de 37º centígrados e esta situação é tanto mais pronunciada quanto menor for a temperatura podendo ser causa de coma e até de morte. Esta não é rara nos desnutridos, nos desidratados, em doentes com problemas circulatórios, metabólicos, endócrinos e outros, e nas crianças e nos idosos. Particularmente estes, idosos e crianças, são muito vulneráveis às baixas temperaturas; as crianças porque perdem rapidamente o calor do corpo e os idosos porque, além de também perderem o calor corpóreo, não têm consciência disto por embotamento da sensibilidade e têm dificuldade em restaurar a temperatura normal por lentidão da termo-regulação, por diminuição da capacidade do termóstato hipotalâmico. Estes défices aumentam o perigo da hipotermia a qual é particularmente severa no idoso demente porque não tem conhecimento da sua situação, não tem capacidades para procurar defesas nem as sabe procurar e ainda porque os sinais e sintomas da hipotermia são inicialmente inexpressivos.

Em síntese, a descida da temperatura ambiental, o vento e a humidade, as doenças, a desnutrição, a idade e a falta de água (principalmente no idoso no qual também a sensação da sede está embotada), são factores condicionantes da hipotermia.

Das doenças salientamos todas aquelas que são causa de inactividade ou que roubam a independência e a autonomia e também o hipotiroidismo, a hipoglicemia e a diabetes, quase sempre causa de doença circulatória que diminui o fluxo sanguíneo, nomeadamente a nível do cérebro e das extremidades. São do mesmo modo causa de agravamento da hipotermia a tomada de fármacos tais como anti-depressivos, ansiolíticos, barbitúricos, entre outros, e também a ingestão de álcool e o consumo de tabaco.

A hipotermia expressa-se por sinais e sintomas os quais começam insidiosamente e evoluem lentamente, principalmente no idoso: pele fria com cianose, tremor (não sempre, por estarem lentificadas ou diminuídas as reacções de defesa desencadeadas pela função termo-reguladora), fadiga, irritabilidade, apatia, sonolência, hipertensão arterial, arritmias, dificuldades na fala, síndrome confusional, delírio e, finalmente, coma e “morte”. No idoso, estes sintomas devem ser procurados atentamente durante os Invernos, ainda que a temperatura ambiente pareça não o justificar; não devemos avaliar o frio do idoso pelo frio que sentimos mas, nesta avaliação, sejamos discretos para não o ferirmos na susceptibilidade.

Em atitude terapêutica devemos chamar o médico e, de imediato, aquecer o ambiente e o doente, este com roupas leves colocadas em camadas e com sacos de água quente cuidadosamente envolvidos; devemos aquecê-lo no pescoço, nas axilas, no abdómen, nas virilhas e na face interna das coxas, isto é, em toda a região corporal com grossos vasos subjacentes; em seguida dar-lhe bebidas moderadamente quentes com açúcar ou mel, mas nunca consentir o álcool ou o tabaco. Quando o médico chegar será, ou não, criteriosamente entendido, o internamento e, no caso afirmativo, o doente será monitorizado, receberá soro aquecido a 39/40 graus centígrados e, eventualmente, fará oxigenoterapia com oxigénio aquecido.

É necessário que se saiba e que se diga que uma pessoa em hipotermia, ainda que em coma ou até em morte aparente, com paragem cardíaca ou com electroencefalograma plano, não deve ser abandonada, tomada como morta porque, se agirmos rápida e insistentemente na reanimação, toda a sintomatologia poderá ser reversível ao cabo de 30 minutos ou pouco mais, embora esta reversibilidade seja muito problemática.

Como em toda a doença, também na hipotermia a medida major é a prevenção; sempre que há notícia meteorológica de descida de temperatura, o corpo deve ser agasalhado com roupas leves e largas e, se a temperatura ambiental descer, elas devem ser impermeáveis; nesta situação usem-se dois pares de meias, sapatos que não sejam apertados, luvas, cachecol e gorro, capuz ou outra peça que cubra a cabeça e as orelhas. Os fatos desportivos de montanha ou, pelo menos, o anoraque são peças aconselháveis para os idosos durante os Invernos frios; os fatos de duas peças (casaco e calça) são os preferidos para idosos porque a satisfação das necessidades fisiológicas é facilitada, evitando que arrefeçam por terem de se despir para o efeito. Outra medida peremptória é o aquecimento da residência, de preferência com ar condicionado ou com aparelhos de óleo “dimplex” à calefacção a gás a qual, embora aqueça rápida e intensamente, oferece perigos (explosões, incêndios e intoxicações pelo monóxido de carbono) por fuga de gás pelo que este tipo de aquecimento só deverá usar-se se o idoso estiver acompanhado por um adulto responsável. Também é imprescindível beber líquidos/infusões quentes açucaradas, excluir as bebidas alcoólicas e não permitir o tabaco nomeadamente o cigarro, o charuto ou o cachimbo.