sábado, 13 de outubro de 2012

Saúde - Doença - Ser Doente, no Idoso


O conceito essencialista de Ser humano entendê-lo-á como entidade espiritual e, por isso, como “Ente abstrato” situado no Tempo; no conceito existencialista, o Ser humano, além de Ser, tem existência conferida pelo seu corpo que ocupa espaço e tempos. Assim, na perspectiva da Medicina, o Homem só pode ser entendido na sua globalidade biopsicossocial e espiritual em situação temporo-espacial e em dialéctica que lhe confere ser também Ser cultural e Ser histórico; Ele contém nas suas ancestralidades Consciência Teleológica da Espécie, expressa no que chamamos “instinto de conservação da Vida”, significando a capacidade inconsciente de manutenção da continuidade da Vida existencial, fiel ao cumprimento dos imperativos finais de perpetuidade da Espécie.

A cisão dualística em Ser e corpo, Eu e os outros, sendo indesejável e só aparentemente válida, é necessária ao estudo do Ser humano. Para estudar é imprescindível, por incapacidade linguística, dividir mas, sem esquecer o conceito de globalidade, sem que mentalmente se deixe de unificar.
Desgraçadamente a escola de ciências médicas, despreocupada, transmitiu-nos noções de cariz dualísta que toldam a transparência do que é real: doença e Saúde, Doente e doença, profilaxia e terapia, evidência e intuição, ilusão e realidade.

Na relação com o Doente, durante as nossas lides, que diferença poderemos encontrar entre a realidade de uma ilusão e a ilusão de uma realidade?!
O concreto e a evidência, não raras vezes, são aparências, superficialidades lineares, são apenas validades, apenas realidades; e digo “apenas” porque o sufixo “idade” confere ao vocábulo, temporalidade; com efeito, “validade” não significa “Verdade”, vocábulo este que contém perenidade; nem “realidade” é o mesmo que “Real”; o Real e a Verdade escondem-se além das aparências sensíveis, são conceitos absolutos e, por isso, inatingíveis e incompatíveis com a Vida existencial. Todavia, estas falsidades e precaridades são-nos imprescindíveis na nossa práxis diária e mesmo em toda a nossa Vida existencial; por conseguinte, não as dispensaremos, mas tenhamos consciência do seu dúbio e limitado valor na compreensão do Ser Doente sofredor.

E doença, o que é?  Quem é o Doente?  O que é Saúde?  

O envelhecimento das comunidades devido não só ao aumento do número de idosos (o absoluto e o relativo), mas também e fundamentalmente à diminuição do número de jóvens, consequência da diminuição da natalidade pelo declínio da fecundidade e pela interrupção voluntária da gravidez, e principalmente devida ao fenómeno da emigração, coage-nos a questionar se os critérios de causalidade que nos têm condicionado, continuarão válidos.
Esta civilização de comunidades envelhecidas, vítima de políticas subvertidas a um desvirtuoso economismo por elas iniciado, que sustenta um agigantado consumismo, confere à doença o estatuto de “coisa-de-mais-valia”, com prejuízo para o Doente sofredor e para o acto-médico e com desvirtuação da Medicina.

A Saúde deve ser entendida como equilíbrio instável e nunca como equilíbrio estável; na estabilidade há conteúdos de morte; numa comunidade, enquanto a juventude e a adultícia a convulcionam com criatividades, a velhice estabiliza-a numa estagnação; a estabilidade, quando duradoura, só na morte se encontra. Saúde é desequilíbrio, inerente à Vida existencial, com capacidades de reequilíbrio.

Ser Doente é Ser perturbado e, por o ser, é também perturbante, perturbação consequente de dialéctica entre a Pessoa e o meio eco-social e também entre a Pessoa e ela própria. O comportamento do Ser Doente a reagir à sua perturbação, na recuperação do seu equilíbrio pode expressar-se em doença. Isto significa que a Pessoa tem doença por ser Doente; não é Doente por necessariamente ter doença e, não raras vezes, até tem doença para não ser Doente. Não obstante, por vezes, perturba-se e É Doente por ter uma doença, se tiver conhecimento que a tem.

Disto se infere que a doença contém uma finalidade teleonómica comum a todo o comportamento do Ser humano, a qual é a de preservar a Vida existencial, pela restituição da Saúde, do equilíbrio. A doença é sempre uma reactividade contra o agente causal, directamente proporcional à vitalidade e á capacidade da Pessoa que a expressa; quando a doença é frágil nas suas expressôes sintomáticas, como acontece no Senil, ela não se cumpre nos seus objectivos e, quando assim é, o prognóstico é reservado e prenuncia morte. No Idoso, a doença é insidiosa, silenciosa, frágil e, por isso, dificulta o diagnóstico que por vezes é tardio. A doença, como comportamento do Ser Doente, é dependente das camadas histórica e cultural e também da época e do espaço geográfico em que o Doente está situado; é po isso que ela não é igual em todos os povos, nem em todo o Ser humano do mesmo povo; nem a mesma doença na mesma pessoa, é  igual no passado, no presente e no futuro, não obstante o presente e o futuro, dessa mesma doença, serem influenciados pelo seu passado; mas, em todo o Ser humano a doença é sempre vivida, para além da biofísica, numa perspectiva de futuro angustiante e, no Idoso, com ruminações de morte, não raras vezes, obsessivas, quase sempre tingidas de depressão. Isto exige que a doença seja personalizada principalmente no Idoso que é Ser fortemente diferenciado. 

Tenho por pertinente, oportuno e necessário, desde já, esclarecer que estes conceitos de doença e de Ser Doente têm por objectivo fundamental guiar-nos na acção de ajuda ao Doente, na farmacoterapia e em outras terapias; necessariamente terão de ser personalizadas e adaptadas ao espaço e ao tempo em que o Doente se situa e deverão aplicar-se muito mais de  acordo com as intenções e com a perturbação que o Doente deixa transparecer durante a consulta, do que com a doença.

Sabemos ainda muito pouco da doença; todavia, do Ser Doente e das terapias sabemos muito menos. 

Para a relação Médico-Doente, a doença é o veículo de comunicação; deveria ser sempre o diálogo afectivo na relação terapêutica, aqui deveria iniciar-se a terapia. Continuamos erradamente a necessitar da doença que justifique a permissão do diálogo entre Doente e Médico e, por outro lado, o diálogo é cada vez mais dificultado pela imposição de normas ditadas por políticas da saúde, as quais insidiosa e intencionalmente se mesclam e se fundam nas problemáticas do consumismo, exigindo que o Médico se comprometa cada vez mais com mais doentes e que supostamente os “observe “ em cada vez menos tempo e assim, a Medicina não acontece. Medicina não é fachada; é missão profissionalizada substancionalizada em psicomatéria cognitiva-afectiva, em humanismo alicerçado em mística que felicita quando não nos ocupamos apenas da doença mas também e principalmente do Doente.

Para o Médico, a doença é o conhecimento que ele tem dela. A doença deverá ser interpretada como psicossomatismo; não raras vezes, é linguagem incisiva, enérgica expressão corporal daquilo que não foi verbalizado, é o reequilibrar da relação inter-individual perturbada e, quando a relação é nula, é o grito de súplica do Idoso para reocupar os outros consigo.
Nesta reactividade de luta pela recuperação da Saúde, em qualquer idade, a doença manifesta-se, preferencialmente, naquelas áreas corporais que, no início, foram atingidas no processo do nascimento: - a pele, pelo atrito ao atravessar o “túnel vaginal”;  os sistemas cárdio-circulatório e respiratório pela onfalotomia;  o aparelho digestivo, pelo início das suas actividades funcionais, quando o bébé começou a mamar; em síntese, quando o nascido inicia a sua “embrionária” autonomia.

A independência e a autonomia têm o seu prêço de complexidades; eis a primeira informação, não captada por inconsciência, na Vida existencial do Ser humano.

A Terapêutica da doença nunca deverá dificultar a acção do Ser, fiel à Consciência Teleológica da Espécie; quero dizer, a terapêutica não deve contrariar as naturais linhas do reequilíbrio, isto é, devemos recusar terapêuticas que e quando interferirem no benéfico e natural esforço de cura, como sejam antieméticos, antidiarreicos, antipiréticos, anti-inflamatórios, entre muitos outros.
A nossa atitude derá ser expectante e de ajuda, de colaboração com a natureza, administrando o fármaco só quando a evolução da síndrome mórbida o exija; a farmacoterapia não cura, mas ajuda a natural e espontânea recuperação da Saúde, quando as defesas são frágeis, quando a doença é inexpressiva, mas também quando a violência da sintomatologia pode pôr em perigo a Vida existencial do Doente. As lutas conduzem a victórias mas também a derrotas.
Enquanto no jóvem devemos considerar a violência expressiva da doença, na senilidade deveremos estar atentos à fragilidade da doença; uma sintomatologia débil, apagada, exige a intervenção farmacoterapêutica que, sendo imprescindível, é de difícil aplicação.
A necessidade da profilaxia, mais que noutras idades, agiganta-se no Idoso; ela deve ser concebida com antecedência, nos critérios de diagnóstico.
O Diagnóstico no Idoso, mas não só neste, deve ser, não o da doença, mas sim o do “Adoecer” e, preferencialmente, o do “Ser Doente”.

A senilidade, não sendo doença tal como a doença não é velhice, constitui todavia um terreno de fragilidades susceptível à instalação de multimorbilidade; a natureza destas fragilidades é não só biopsicossocial por dialéctica perturbante, mas também elas resultam de alterações orgânicas, somáticas e funcionais, consequentes de perda de massa protoplásmica metabolicamente activa, isto é, de células, de perda de corpo e, consequentemente, declínio fisiológico e inevitáveis transtornos metabólicos. Isto considerado, direi que a profilaxia no Idoso deverá fundamentar-se, com adequada antecedência, no combate ao declíneo psico-orgânico e manutenção do equlíbrio físico, psíquico e social na sustentabilidade da sua independência e autonomia.

A Gerontologia e a sua disciplina Geriatria são ciências multidisciplinares, são antropociências elaboradas com antropociências; elas prenunciam mutação nas ciências médicas, elas conferem uma renovação essencial à Medicina.

No Ser humano em senescência, o médico deverá sempre considerar cinco objectivos fundamentais:
  1. Manter a Saúde, através da senescência, pela actividade já que esta é condição “sine qua non” para uma longevidade saudável. Quando falo em actividade refiro aquela com intenções sociais e não a uma sem objectivos, refiro-me à mobilização da cognição, da afectividade e da motricidade na sua elaboração.
  2. Evitar  prioritariamente a morbidez,  o adoecer, pelo estudo das fragilidades do terreno; secundariamente, a doença e a granda invalidez social, entendendo-se por esta o impedimento da Pessoa viver na comunidade e para ela, como todos os outros, embora com alguns condicionamentos de capacidades, ou de possibilidades, isto é, das suas aptidões, respectivamente, centrais ou periféricas.
  3. Curar o Doente, entendendo-se por curar, reequilibrar, adaptar e minimizar ou anular a doença , se houver.
  4. Reabilitar a Pessoa para que se expresse em actividade adequada; note-se que reabilitar não é conseguir um ser humano esteriotipado, tal padrão convencionado pela sociedade, nem é exigir que ele venha a ser como quando era jovem; reabilitar a Pessoa é criar-lhe mecanismos  de adaptação, conciliá-la com Ela própria e solicitar-lhe o máximo possível das suas capacidades e possibilidades na construção dos seus tempos para os outros, evitando assim o egoísmo que, no Idoso,  é temível solidão afectiva; e estimulando também a curiosidade e o conhecimento através da comunicação pela relação inter-individual, evitando assim o isolamento na ignorância que é um modelo, também temível, de solidão cognitiva.
  5. Oferecer ao Idoso condições internas e externas para morrer com dignidade entre os outros, isto é, ajudar a Pessoa a morrer.


Desgraçadmente, sabemos muito pouco do Espaço que envolve a “morte”, o antes, o durante e o depois, nem o que é a “morte”, nem o que é o “morrer”. Mas podemos e deveríamos meditá-la.
Esta problemática não tem lugar neste colóquio; todavia, poderemos ocupar um pouco do nosso diálogo, que se segue, com este enigma tido, desde sempre, como “verdade” dogmática silenciada e guardada no baú dos tabús das religiões.

Termino com as seguintes lucubrações:
  1. O senescer deve ser meditado e a velhice deve ser aprendida em antecedência através de grande investimento no SER. Quem investe apenas no ter, investe  em valores precários e assim se conduz, alienado, para a falência na senilidade.
  2. Ajudar o Idoso não é substitui-lo no que ele pode fazer; ajudá-lo é permitir que ele continue a viver as suas experiências confiadamente, emliberdade, sem inibições; é alimentá-lo na esperança de poder Sempre superar-se, um sempre de todos os instantes.
  3. O Idoso é um ser diferenciado, idêntico a Si mesmo, irrepetível; assiste-lhe o direito de ser o que É, não o que se entenda que deva ser; tem o direito de continuar a ser inconcluso, imprevisível, livre , sensível e dotado de capacidade evolutiva.
  4. O estudo da senescência é uma problemátuca de perspectivas.
  5. A Gerontologia tem de habilitar-se para uma leitura interpretativa dos sinais biopsicossocio-histórico-culturais que se apresentam no Idoso com muitas máscaras comportamentais que vão do sofrer à doença, do sofrer à Saúde e do sofrer à morte.
  6. A Gerontologia deve comprender as diferenças e combater desigualdades psicossociais, fiel a uma intencionalidade de cidadania racionalizada e adequada.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Consulta em Geriatria


Esta consulta deve ser uma relação bilateral médico-doente, horizontal e empática; por isso, também terapêutica. Se, depois deste encontro, o Doente não se confessar melhorado é porque a relação foi deficitária.

O Idoso deve ser aceite, de modo positivo e incondicional, mais como Ser doente do que como alguém que tem doença.

Ser doente é um ser perturbado, independentemente de ter ou não doença; a doença para o Idoso pode ser comportamento reactivo equilibrante, como seja o de reocupar os outros consigo, quando isolado ou quando o sofrimento da consequente e temível  solidão se anuncia

O médico, perante o Idoso sofredor, mais que saber dizer, deve saber ouvir com humildade intelectual e controle do seu egocentrismo. Saber ouvir é escutar, pensar e sentir o Doente, com emoção.

Durante a consulta, não deve interferir com palavras que roubem o tema ao Doente, nem deve impor um modelo pessoal de comportamento; antes deverá sempre respeitar o modelo de vida do entrevistado, transparecendo autenticidade solidária.

A resposta à informação solicitada pelo Doente deverá ter um efeito terapêutico; para o conseguir, o médico deverá considerar que, no diálogo, são mais importantes os silêncios que as palavras para entender, quando o Idoso diz, a realidade contida no que ele não diz; e, quando o Idoso diz “quero saber tudo”, é necessário saber porque é que o diz e o que, na realidade, ele quer saber. O médico deve conduzir o Idoso à consciência de Si, para que conheça as suas potencialidades e participe na sua própria cura, sendo certo que é sempre o Doente que se cura; o médico ajuda-o a curar-se mas, certo é também que, sem esta ajuda, é quase impossível a cura, assim como ainda ela não se verificará sem a colaboração do Doente.

Não esquecer:
I – que na senilidade não há doença que não seja simultaneamente do somático e do psíquico e que todo o órgão e a sua função estão intimamente relacionados com o Eu que, mediante o processo mental, se anatomiza no cérebro em expressões de emoção e de pensamento.
II – que o Idoso é um ser humano diferente da criança e do adulto que foi, mercê de 5 especificidades que o caracterizam:
  1. Diferenciação; o Idoso, através do seu senescer tornou-se, progressivamente cada vez mais diferente dos outros e mais idêntico a Si mesmo,  desenvolvendo e realçando as suas qualidades,  positivas e negativas, que o foram estruturando desde a infância 
  2. Lentificação (bradipsiquia e bradicinesia); o Idoso lentifica progressivamente os movimentos activos, os passivos e os reflexos, a cinética fisiológica, a percepção, o entendimento, a comunicação, os processos biológicos vitais e os instintos feitos de memória teleonómica da Espécie.
  3. Perda de capacidades adaptativas; a dificuldade de adaptação a novas situações aumenta com a progressão da senescência e do simultâneo declíneo da homeostase.
  4. Misoneísmo, isto é, críptico às mudanças, principalmente nas ideias e nos critérios.
  5. Disfunção dos afectos expressa em labilidade emocional por incontinências emocionais; muitas vezes as lágrimas não chegam aos olhos.
III – que a senilidade não é doença nem é uma idade; é comportamento. 
IV – que a senescência avançada (senilidade), não sendo doença, é factor de risco para a instalação de patologias, sejam elas anatómicas, funcionais, psicológicas ou psicossociais.
V – que a primeira etapa da consulta é avaliar o grau de autonomia e de independência do Idoso não só pela observação do sistema músculo-ósteo-articular, mas também pela qualidade da comunicação.
Quase sempre o ser humano entra na senilidade pela porta da psicopatologia que se ocupa da relação perturbada; a neurose é o seu modelo estrutural porque é uma perturbação da comunicação.
VI – que, para o médico, deve ser mais relevante o “ser  doente” do que o “ter  doença”. Ser Doente é estar perturbado e quem está perturbado é perturbante no ambiente eco-social em que se situa.
VII – que toda a doença no Idoso tende, por si só ou pelas sequelas, para a cronicidade e para a invalidez, pela perda de autonomia e de independência.
VIII – que o Idoso tem maior necessidade de reabilitação, a qual é mais lenta agora que em idades antecedentes.
IX – que no Idoso com doença há, invariavelmente, multimorbilidade e grande susceptibilidade para iatrogenias que resultam de fármacos, de inactividade, de psicoterapias mal formuladas, duma comunicação defeituosa ou até mesmo de carência de intenção; a palavra, quando inadequada ou mal formulada, é perigosamente iatrogénica e pode ter, no Idoso Doente, efeitos devastadores.
X – que o Idoso vive as suas doenças, as reais e as imaginadas, mas todas reais para ele, para além da biofísica, projectando-se  num futuro feito de angústia, no qual há ruminações de morte.
XI – que, no Idoso, a doença é insidiosa, tem frágil expressão, tem sintomatologia larvada, é de diagnóstico difícil e, por isso, não raras vezes, o diagnóstico é perigosamente tardio.
XII – que diagnóstico é o que predomina num terreno com multimorbilidade e que, no Idoso, a polipragmasia terapêutica é um grave êrro pelo perigo de iatrogenia devida a condicionalismos anatomofisiológicos, tais como:
  1. perda de massa protoplásmica metabolicamente activa, isto é, perda de células, o que significa haver menos consumidores para o fármaco, pelo que não deve ser prescrito  na  habitual dose para o adulto.
  2. défice de absorção devido à hipotrofia da mucosa intestinal.
  3. diminuição da albumina sérica.
  4. declíneo e lentidão  do metabolismo hepático.
  5. declíneo da eliminação renal.     
XIII – que, se não for abordado o conflito psíquico, a farmacoterapia  prolongar-se-á e o risco de iatrogenizar o Idoso aumenta.
XIV – que a patologia e a terapêutica no Idoso nunca são redutíveis ao biológico, nem ao psicológico, nem ao social. Elas englobam doenças da comunicação, agressões psicossociais, perturbações funcionais e anatómicas, alterações psicológicas e doenças iatrogénicas e sequelares todas intrincadas pelo que, a consulta do Idoso terá de ser, necessária e imprescindivelmente, transbiopsicosócio-cultural.
XV – que o Idoso quérulo acrescenta às suas doenças sofrimento de inadaptações, de desamor, de inibições, de reminiscências e de medos relacionados mais com o morrer do que com a morte.
A memória no Idoso não é recordação, é antes presentificação permanente e dolorosa de emoções que investem relações e imaginações vividas no passado no qual se fixa. A convergência dos globos oculares traduz um comportamento de fuga para a sua interioridade povoada por aquele passado, moderador da solidão que lhe vive nos seus dias de existência morta.

Resulta assim que a consulta de Geriatria exige do médico disponibilidade e tempo para ver, ouvir e sentir o Idoso que sofre; exige do médico humanismo e solidariedade que é o novo rosto  da Medicina rica de competência, de sabedoria e de compaixão.

sábado, 14 de julho de 2012

Adenda/Comentário à conferência “Seniores – um novo estrato etário e social” de Daniel Serrão


O corpo, com a funcionalidade e as factualidades que lhe são inerentes, é o corolário do nosso pensamento e da nossa emoção.

A motricidade (locomoção) é consequência directa de aptidões periféricas, o mesmo é dizer, é consequência da possibilidade do sistema músculo-ósteo-articular mas, este não funciona sem as aptidões centrais, quero dizer, sem a capacidade  do sistema nervoso central, isto é, sem que o cérebro segregue pensamento e emoção (motivação). São com estas tres acções (cognição, afectividade e motricidade) que o Ser humano, em dialéctica e situado no espaço e no tempo, elabora todos os comportamentos e estes só serão saudavelmente assertivos se as acções se expressarem em alostase/homeostase porque, quando uma destas acções está perturbada as outras estarão comprometidas e, em consequência, os comportamentos fragilizam, perturbam-se também.

É neste contexto que deve ser meditada e estudada a senescência do Ser humano.

O que caracteriza o envelhecimento é uma progressiva mudança comportamental, expressa  em perturbação da relação inter-individual, traduzida em perdas de autonomia e de independência, com alteração da comunicação; é um declíneo dos comportamentos e é muito mais um neuroticismo que somatismo.

Afirmar que ”não é o envelhecimento corporal que conta, é o envelhecimento do cérebro” ou que  “os corpos podem estar perfeitos mas o cérebro deixou de funcionar porque envelheceu” ou ainda  “As pessoas são cérebro...”, não é correcto, são alienantes incorrecções. Então, o cérebro não será também corpo? Não é matéria neuronal?  Não é massa protoplásmica metabolicamente activa?
O número dos idosos é muito superior ao dos dementes; corolariamente, o Idoso não só não é senil por ser demente, como também não é demente por envelhecer.
Uma coisa é doença, outra é senescência; e diagnóstico é o que predomina numa pessoa perturbada e/ou com multimorbilidade. Este critério afasta a iatrogénica, indesejável e funesta polipragmasia terapêutica.

Considerar a Pessoa senil por ter atingido a idade de 65 anos é também aberração social; este conceito é convenção que não só tem por objectivo satisfazer interesses políticos sócio-económicos despidos de humanismo, como também injuria valores antroposóficos.
Velhice não é uma idade, não é patologia; é comportamento.
O Ser humano possui um corpo que lhe confere existência por Ele vivida em comportamentos. Ele senesce no tempo medido e amadurece  em tempo vivido; há idosos mais envelhecidos que velhos, envelheceram mas não amadureceram.
Em actividade  vivemos e “morremos” em inactividade. Existir sem viver a existência é existir esquecido numa ante-câmara da “morte”; há idosos que existem, mas não vivem.
 Os senescentes sofrem, sucessivamente, de: diferença, marginalização, isolamento, indiferença, solidão, depressão, silêncio de ruína, esquecimento, falência do corpo, desistência, “morte”.
Este perturbante conteúdo dos tempos finais da existência  do Idoso traduz-se em lágrimas que inundam a sua interioridade mas raramente chegam aos olhos até que, no estádio de “falência do corpo”, a doença seja manifestada e venha cumprir a “desistência” e justificar a “morte”.

Quando a Sociedade tomar consciência de Si e o permitir,
Ser Velho poderá ser, para todos, um privilégio e,
Ser Jovem tem de ser um compromisso.

domingo, 18 de março de 2012

Vocação, Ética e Lucidez em Medicina


A vida que não é examinada não é merecida porque, sendo inconsciente de si, não percepciona a oportunidade.
Na dialéctica entre a ciência médica e as leis da natureza, são sempre estas que prevalecem.
A ciência médica vale pela procura da Verdade que nunca  alcança; ela conduz-nos apenas a validades que são precaridades, falhadas cópias de falsidades, mas é também a nossa imprescindível muleta que justifica e valida os nossos actos.
A experiência é enganosa; ela e o erro nela escondido são os nossos mestres, quando meditados e consciencializados.
As noções aprendidas na Escola Médica são apenas ferramentas, material utilitário para, perante o Doente, pensar e fazer Medicina; elas não devem ser aplicadas, na sua fria indiferença, o que seria apenas aplicar ciência médica dirigida apenas à doença. Medicina é muito mais e dirige-se ao Doente. Uma doença é um ter; o Doente é SER.
A mesma doença não é igual em dois doentes nem, no mesmo doente, é igual no passado, no presente e no futuro porque, considerando-a num presente einsteiniano, a doença é modelada pelo Doente no seu caminhar peloTempo.
Diagnosticar é entender e sentir o sofrimento do Doente, com ou sem doença; a convicção diagnóstica é o produto da conjugação de sabedoria com  intuição,  opinião,  crença e  afecto, modulados pelo critério da humildade, perante o Doente "Objectum".
A terapêutica do Ser Humano sofredor não é só ciência; é também compaixão, intuição e muita sensibilidade veiculadas no diálogo, fruto da relação empática gerada pela observação recíproca doente-médico.
Observar é relacionar-se, é o despertar do afecto que estimula o pensamento e também o entendimento de sons para-linguísticos, vocalizações do sofrimento feitas de vogais (ai! ui! ó!) que as consoantes moderam formando palavras realçadas validamente pelos silêncios. É esta dialéctica palavra-silêncio concretizada em linguagem corporal gestual  que solicita a terapia onde se encontra o afecto que confere razão e essencialidade à Medicina.
A Medicina é muito mais uma missão que uma profissão. A dignidade e a ética do médico revelam-se só quando ele entende e sente anancasticamente a sua entrega em disponibilidade permanente, através de toda a sua Vida existencial. É por isso que o médico não deve, não pode, sujeitar-se a horários convencionais; o sofrimento também os não tem; é por isso também que a polémica conflituosa que advém do economismo relacionado com a práxis da Medicina é aberrante porque ferida de irracionalidade e conspurcada por minudências inadequadas à qualidade da produção. O Trabalho não é vendível; vale sempre muito mais que o dinheiro que lhe é atribuído. Esta exatidão axiomática de princípio, investida de perenidade, é particularmente agigantada no exercício da Medicina pelo que, constitui uma afronta o abrangimento desta área pelo sindicalismo; o sindicato é indispensável ao operariado e a universos análogos, como o dos “médicos profissionais” com as suas problemáticas económicas, de greves, de “horas extraordinárias”, de condições de trabalho, etc., etc.,etc..
A profissão é paga por valores convencionais relacionados com a unidade de tempo; a Missão vive fora das convenções e o seu tempo não é o tempo do salário. O médico dado à Medicina na sua totalidade deve usufruir,  para sua libertação em benefício de outrem, de independência económica; não deve ser pago pelo trabalho realizado mas sim pago para, liberto, poder trabalhar.
É um grande privilégio ser médico quando a sua interioridade se verte, em compaixão universalizada, na entrega ao sofrimento do Ser- humano, sem horários perturbantes e interesses menores, em catatimia compassiva. Exercer Medicina é um transcendentalismo epistemológico aplicado ao Doente; é um misto de ciência e conhecimento numénico, aquele que vai além das aparências sensíveis.
Este conceptualismo deve preencher, em permanência, a interioridade do Médico, conduzindo-o à dignidade e à resiliência para uma boa saúde mental, força espiritual e Felicidade.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Álgebra da Economia - Válida para 25 anos


Menos fecundidade = menos natalidade;
Mais saúde = mais anos de “vida”.

Menos natalidade + mais anos de “vida”=  envelhecimento social = menos produção e mais pobreza.

Menos natalidade = menos puericultura e menos adolescentes.
Menos adolescentes = menos escolas, menos contestação social que renova e promove, e menos adultos.
Menos adultos = menos trabalhadores e menos impostos.
Menos impostos = mais miséria psico-sócio-económica.

Ter hospitais suficientes, escolas para todos, satisfazer as necessidades da comunidade, está facilitado quando a população diminui, a natalidade é reduzida, o SNS encarece, e a procura declina porque a pobreza aumenta.

O pântano nacional com mais caixões que berços.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Assim são os Tempos...


Da “crise” do Presidente à “pieguice” do Ministro
A palavra do homem assassina o homem situado no hostil contexto sócio-político porque,  de outros,  as interpretações espelham ignorância, não captam a essencialidade que contém a verdade das palavras e são intencionalmente difamatórias; - são expressões linguísticas do maníaco-frustrado, no polo da exaltação iníqua.
O homem é imaturo quando não pensa o que diz e é inconsciente de Si quando diz o que pensa sem pensar no que pensa.

O Esplendor da Hipocrisia
O carnaval é uma neurose onde se encontram conteúdos de frustração, ódio e desejos enterrados no subconsciente,  a qual resulta da inibição da acção; é o tempo em que se manifestam ideias, desejos e acções não expressas durante o ano. O carnaval é a expressão possível do imaturo que ainda não adquiriu a  identidade que lhe confere caracter vigoroso que lhe permita ser o que e como verdadeiramente é; é comportamento hipocritamente legalizado pela convenção e aproveitado por faixas sociopolíticas, desprovidas do bom senso e de racionalidade, para um intencional delírio desviante do que é essencial: a situação sócio-económica de Portugal. O carnaval é o orgasmo dos impotentes.

Não me peçam para ser justo
Quando a Justiça cega e fria,
com espantoso furor vetusto,
fere Humanismo em auditoria.

Igualdade sempre foi virtual,
que admirada seja a diferença,
a compaixão, a mágoa, a dor,
a Verdade, o que é conceptual. 

Na Lei há polémica, antagonismo;
Mais do que Ela é o Humanismo.
Viva-se em permanência o Amor.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Resposta ao Doutor António Gentil Martins

O "encontro" do óvulo pelo espermatozoide não será o início da Vida, porque estas entidades são já Vida existencial, isto é, Vida materializada. Deste encontro/junção resulta, não Vida, que já era, mas sim existência concretizada num corpo, o ovo dinamizado pela vitalidade ontogénica.
A Vida é absoluta, é um todo-contínuo antes e depois da existência. É a matéria, o corpo, que confere existência, isto é, algo percepcionado ou perceptível pelos 5 sentidos. A Vida é realidade escondida em além das aparências sensíveis; a existência é concreta, objectivada, materializada e, por isso, sujeita à temporalidade da finitude do corpo. A Vida é perene; nela estão contidas as existências e os seus tempos, mas ela está no Tempo, outro todo-contínuo, donde a existência tira os seus tempos os quais apenas valem pelos seus conteúdos que são os comportamentos daquele que vive a existência.
A decisão de legislar a interrupção da gravidez não se correlaciona com ciência, mas sim com desejos de Felicidade e de Vida ditadas por conteúdos emocionais e sociais e também, muitas vezes com conveniências egoístas sustentadas por comportamentos ideológicos iníquos, variáveis com os tempos e os espaços.
O que está consagrado é o direito à existência desde o início até à morte, sendo certo que morrer é não existir, é perder o corpo. Não é possível matar a Vida, mas é cientificamente exequível libertá-la da existência.
A autonomia e a autodeterminaçâo são capacidades, isto é, aptidões centrais do Ser humano; as suas expressões, isto é, a sua concretização é aptidão periférica, possibilidade, só possível se o corpo estiver apto para tal, é uma sub-estrutura do Ser.
O suicídio e a obstinação são comportamentos mórbidos dum Ser humano perturbado que necessita de ajuda.
Não concordo com a pena-de-morte; é inadmissível que se interrompa a vivência da experiência e a consciencialisação das acções (cognição, afectividade e motricidade) do criminoso, que deve continuar a existir para que, ajudado, medite os seus actos.
Se o Curso de Medicina não ajuramenta, pela formação que dá aos alunos, não se cumpre. A conduta do Médico não pode nem deve ser pautada por juramentos, palavras simbólicas, mas deve-o ser por sentimentos estruturantes de compaixão intensificada pela meditação e pela consciência de Si.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O Conteúdo dos Tempos


É desejável racionalidade baseada mais no conhecimento histórico dos povos do que em ideologias que encontram só dentro delas a sua própria verdade, apropriando-se de materiais favoráveis e rejeitando os ameaçadores, ou em idealismos que criam formas sofisticadas de racionalidade para que, com realismo, se atinjam as metas que conduzem ao objetivo comum.

Os egoísmos partidários, sempre edificados em hipocrisia, no materialismo, ou em invejas e frustrações, e também os nacionalismos e o individualismo, são os declives que conduzem à dispersão e a lutas iníquas, tão defendidas por aqueles que recusam a integração, a solidariedade, o Afecto e a Paz, génese do vigor construtivo que conduz ao Bem comum dos povos.

A carência da frontalidade feita de honestidade e dignidade é a causa de fatualidades como a actual instabilidade social, económica, moral, ética e, secundariamente, de saúde não só física, mas também psicológica e espiritual, instabilidade expressa em ilicitudes não só de conteúdo material, mas também de “psicomatérias” degradantes escondidas em ideologias que perderam a nobreza que as construiram para se diluirem em falsos altruísmos oportunistas dinamisados pelo ódio, pela intriga, pela inveja, pela destruição.

É este clima psicossocial que preside a comportamentos como os da indesejável criatura fortemente inclinada à megalomania psicótica, tingida de défice duma educação incompatível com o respeito mútuo que deve presidir às suas relações inter-individuais; criatura que, por reincidência ou pertinácia, monopoliza o diálogo, mais gritado que falado, porque ainda não aprendeu que dialogar é mais saber ouvir que saber dizer; mas não sabe dizer nem sabe ouvir e, por isso, compensando o seu défice, gesticula com ridícula amplitude enquanto faz saltar, na cadeira que o suporta, a sua massa de glúteos; criatura imatura que, num dos programas televisivos, se expressou, en-“crespada”, com tristes e atrevidos comentários, realçados pela ignorância, dirigidos a entidades, que têm dedicado a sua Vida existencial a nobres causas, a quem os portugueses muito devem.

A carência de entendimento conduz à ignorância que, na ausência de cidadania, se converte em atrevimento paranoide.
Para esta pobre criatura não peço compreensão porque não é possível compreendê-la, mas solicito condescendência e a tolerância que, por força de cidadania, faz dela um tolerado social, a quem desejo que seja humilde para que não seja humilhado.