segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Essencialismo do Medo

O Medo ancestral iniciado pelo recém-nascido no impacto ambiental ao iniciar a sua Vida existencial, quando se situa no espaço surrealista incomensurável, de enormes sombras objectais que contaminam o inconsciente ainda puro, quero dizer, vazio, sem luz, sem tempos, sem espaços, é estruturante, arquetípico, livre de consciência e de racionalidade, persistente e antecipado à cognição; é “psicomatéria” de futura neurose fóbica, pavorosa para o ser perturbado anfibológico que por desventura sofra, sem o contacto maternal, a relação conflituosa remanente de duas acções – a afectividade e a cognição.
O Medo afirma-se independente da cognição, em paralelo e em analogia com o inconsciente que age nas obscuridades da Vida existencial sem interferência do consciente e, quase sempre, sem que este venha a manifestar consciência desta factualidade; a taciturnidade que resulta deste processo é sepultada no subconsciente, em sentimentos que não deixam de escurecer a interioridade e moldar os comportamentos, a comunicação. O que a emoção impõe, a cognição rejeita e o que é óbvio para a racionalidade, é desprezível para a emoção; a potencialidade rápida e invasora da emoção impossibilita a decisão porque a esta se antecipa, factualidade que, em jurisdição, poderá defender algumas inimputabilidades.
Em crise, o fóbico pensa mas pensa mal porque submetido à emoção desequilibrante; necessita imprescindivelmente de auxílio, de terapias psicanalíticas e cognitivas, como as de Token e as de Beck, entre nós defendidas por Adriano Vaz Serra, Afonso de Albuquerque e outros, visando um controle sobre a amígdala e o córtex, para uma adaptação á circunstância patogénica.

O Ser Humano ainda é arcaico; os seus comportamentos são supostamente o produto de conflitos entre camadas cerebrais sobrepostas de diferentes idades filogenéticas (hipotálamo/tálamo, hipocampo/amígdala e o recente neo-córtex): o córtex pensa e coordena, o sistema límbico condiciona memórias e emoções, a camada reptiliana dinamiza o homem instintivo. Há comportamentos no fóbico que, em crise, emergem em homologias com os de espécies taxonómicas afins, devido a fenómenos regressivos que acompanham o ataque de pânico.

A racionalidade, por si só, não contém todas as soluções para o equilíbrio biopsicossocial, para uma adaptação que tenha por corolário a satisfação da Vida existencial do Ser humano; a intuição, chegada na sabedoria arquetípica contida e esquecida no inconsciente, é outra solução; há ainda soluções encontradas no universo dos afectos e concretizadas na Arte. Estes três factores, considerados em conjunto, constituem as três atitudes, génese de satisfação existencial: a científica, a intuicionista e a artística.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nuno Amaro

A pintura de Nuno Amaro fala do TEMPO, da memória inconsciente nele contida e anunciada nas suas telas; é saber que ele não sabe, nem nós sabemos, esquecido e trazido na consciência teleológica; fala também de contestação e de revolta e de amargura. É conteúdo de VIDA.
Do TEMPO Nuno Amaro toma os seus tempos, preenche-os de compulsões genuínas e expressa-as, em presentes febris feitos de arquetípicos passados e futuros, em simultaneidade. Os seus tempos estão no TEMPO; as suas existências contidas na VIDA. TEMPO ~ VIDA ~ ETERNIDADE.
Eis Nuno Amaro saído do mistério do TEMPO para o caos donde tenta fugir e regressar à arquetípica NOITE expressa, nas suas telas, em luz que espreita por entre o nebuloso, a sombra, a irrealidade e o pranto amaro que é tanto mais real quanto mais abstracto e mais poético.
Obrigado Nuno; muito obrigado por existir e viver a sua existência, ajudando-nos a tomar consciência das nossas essencialidades.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A Bactéria

No universo dos microrganismos desenrolam-se comportamentos teleológicos de conservação da espécie, tais como no dos seres humanos no combate às bactérias patogénicas. Refiro-me à bactéria portadora do gene New Deli Metallo-beta-lactamase (NDM-1) resistente a todos os antibióticos concebidos para a luta contra os micróbios conhecidos.
Outros microrganismos se revelarão; outros antibióticos se inventarão.
Para agora, a única forma de nos defendermos desta violenta agressividade microbiológica é tomarmos medidas profiláticas que visem aumentar a capacidade imunitária, a funcionalidade dos linfócitos-T; são medidas comportamentais, ao alcance de todos, nas quais estão implícitas mudanças do estilo de vida existencial:

  1. Evitar vivências de stress; encontrar prazer no trabalho realizado com intenção de ajudar os outros; incrementar a sociabilidade, estimular os afectos e a capacidade de admirar; combater os egoísmos; anular a inibição, a frustração, a agressividade e desenvolver a compreensão; incrementar a honestidade e a frontalidade.
  2. Repensar os regimes alimentares e manter a normalidade da fisiologia intestinal com probiótico.
  3. Estimular as defesas com vacinas (por agora inespecíficas para esta bactéria) e com a coenzima NADH.
  4. E, sobretudo, sejamos Felizes na Felicidade dos outros.
Quem ama e é Feliz não adoece porque os mecanismos de defesa exaltam-se, os linfócitos T aumentam.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Osteoporoses

A osteoporose é uma entidade mórbida de evolução silenciosa, larvada, pérfida que se caracteriza por baixa densidade mineral óssea devida à perda de massa protoplásmica metabolicamente activa, isto é, perda de osteocitos, mantendo-se, nos restantes, o material orgânico e o mineral, nas suas normais proporções.
A perda de células é apanágio do senescer pelo que é compreensível o intrincado entre osteoporose e senescência, quando esta ultrapassa a década dos 50 anos de idade cronológica do ser humano. A senescência avançada, leia-se, a senilidade (senil-idade), é um factor da osteoporose e esta é um factor da senescência em evolução. De aqui se infere que o melhor combate à osteoporose será a profilaxia da senescência, esta, no caso que nos ocupa, expressa no sistema ósseo.
Falar de osteoporose com ligeireza é referi-la, incorrectamente, à mulher, sendo certo que o homem também a sofre, não obstante a proporcionalidade ser aproximadamente a de 1 homem para 3 mulheres.

A prevenção da osteoporose implicita o conhecimento da sua etiologia na qual se iclui a convergência de vários factores:
  1. Carência de calcio, fósforo, fluor e calcitriol (vitamina D3).
  2. Défice de absorção intestinal, por perda de células e diminuição de irrigação da mucosa, isto é, por atrofia da mucosa intestinal.
  3. Perturbação da eliminação renal, por declíneo da depuração com o avanço da senescência.
  4. Diminuição da irrigação do osso.
  5. Declínios hormonais e metabólicos.
  6. Osteopenia (avaliada na densitometria).
  7. Inactividade física.
Para uma eficiente profilaxia, há que considerar: o diagnóstico do Adoecer a partir dos 40 anos de idade cronológica; o diagnóstico do Terreno favorável à instalação da osteoporose, a partir dos 50 anos; e, em seguimento, a Correcção destes factores patogénicos.
I - O diagnóstico do ADOECER exige, na ausência de qualquer patologia, o conhecimento de factores de risco:
  • hábitos alimentares condicionantes de obesidade ou de desnutrição; salientamos a carência de produtos lácteos, nomeadamente queijo, yogurtes e leite, e também a carência de proteínas e de fruta e de legumes verdes.
  • hábitos alcoólicos, tabágicos e de consumo de drogas ilícitas.
  • carência de luz solar.
  • inactividade muscular, causa de perda de miocitos, de osteocitos e de fragilidade do tendão e consequente diminuição de força, causa de desequilíbrios.
II - No diagnóstico do TERRENO osteoporótico,
  • a osteopenia ocupa um lugar determinante; não é raro ela ser o corolário dum hipogonadismo, duma hipertiroidia, duma hiperparatiroidia, duma osteodistrofia renal ou até dum mieloma ou duma hipercalciúria, entre outras morbilidades. Mas há que considerar com primazia,
  • o hipogonadismo meno/andropáusico e o climatérico.
  • a iatrogenia, principalmente por fármacos corticoides.
  • vícios metabólicos (diabétis, dislipidemias e outros), a obesidade e a desnutrição.
  • hipertensão arterial.
III - A correcção de todos estes factores patogénicos exige o conhecimento de défices e insuficiências que silenciosamente se desenvolvem no avançar da senescência e que, nesta fase inicial, devem ser rastreados mediante elementos auxiliares de diagnóstico já que, se esperarmos por sinais e sintomas clínicos, a osteoporose instala-se irremediavelmente ou com dificuldades duma terapia eficiente:
  1. medição da densidade mineral óssea, na avaliação da osteopenia, através da densitometria ou pela absorciometria, a nível vertebral e do colo do fémur.
  2. doseamento da calcemia e calciúria, fosforemia, fosfatase alcalina, glicemia, lipidemias, uricemia, proteinograma, transaminases, depuração renal, estrogénios totais, progesterona, FSH, LH, testosterona, TSH, T3, T4 e doseamento da 25-hdroxivitamina D (análise exageradamente dispendiosa).
Não obstante estes exames denunciarem distúrbios imperceptíveis, não é dispensável o conhecimento, conferido pela clínica, de importantes factores geradores do terreno patogénico, como seja a insuficiência de vitamina D, em doseamento inferior a 50 nanomoles/l quase sempre presente, não só no idoso institucionalizado, mas também no carente de sol e no inactivo. A hipovitaminose D3 inicia-se, sem qualquer sinal ou sintoma, em idades da perimenopausa na mulher e da andropausa no homem, principalmente se a ociosidade, que tem por companheira, o conduzir a hábitos alcoólicos ou lhe acentuar os tabágicos. Este patomorfismo, clinicamente inexpressivo, constitui a grande indicação para os bifosfonatos os quais, mais tarde, no Idoso, devem ser evitados porque a depuração renal está em declínio acentuado; eles restituem ao osso o cálcio e o fósforo, remineralizando-o. Também os estrogéneos, na mulher, inibem a osteolise, e a testosterona, no homem, estimula o anabolismo proteico e travam a desmineralização.

Habitualmente, sem considerar a indesejável presença de osteopatias e de outras morbilidades, a osteoporose inicia-se em idades, já referenciadas à meno/andropausa, e evolui, tendencialmente, expressando-se em sinais, sintomas e consequências mais ou menos invalidantes. Desta factualidade resulta que a osteoporose apresenta duas expressões clínicas:
  1. A osteoporose em idades climatéricas, é aguda evidenciando-se frequentemente com uma dor brusca e intensa, com irradiação radicular, que aumenta com o decorrer do dia e melhora com o repouso; secundariamente surgem alterações estáticas e desequilíbrios. As terapias desta identidade mórbida, para além das medidas profiláticas, consistem em travar o curso da osteopenia; os bifosfonatos (alendronato, ibandronato, risedronato) estão indicados; em horas diferentes, o cálcio na dose de 1200 mgr com 1000 UI de vitamina D3 deve ser administrado diariamente.
  2. A osteoporose senil é crónica, difusa, evolutiva, com dores, deformações, quedas e fracturas, - esmagamentos de vértebras, causa de cifose dorsal, lordose cervical e lombar, diminuição da estatura mantendo-se a envergadura e alteraçõea degenerativas osteo-articulares axiais e periféricas. Pelas razões já referenciadas os bifosfonatos devem ser evitados na osteoporose senil; o cálcio deve administrar-se na dose de 3000 mgr com 2500 UI de vitamina D3, diariamente (3 comprimidos mastigáveis de "Decalcit" ao pequeno almoço e mais 2 comprimidos ao jantar).

sábado, 15 de maio de 2010

Quando o Calor Mata

Quando a temperatura atmosférica sobe, ultrapassando ou aproximando-se dos 30ºC, estabelece-se uma situação ambiental desconfortável para o ser humano em geral e de perigosidade para as crianças de idade inferior a 5 anos e para os idosos. Estes são particularmente vulneráveis por:
1. Declínio funcional da termo-regulação, condicionante de frágil reactividade homeostásica.
2. Embotamento da sensibilidade da sede, não obstante a oligosialose por aptialismo estar quase sempre presente como causa de disfagia com “boca seca”.
3. Sudação abundante e consequente desidratação com hipernatrémia, oligúria, urinas concentradas, náuseas, cefaleia e fadiga, síndrome esta agravada pela perda do hábito de ingerir água que seria compensadora da excessiva eliminação diaforética.
Os idosos perdem, muitas vezes, a sensação da sede.
A oligúria e a consequente azotémia que, não raras vezes, parecem vaticinar o coma hiperosmolar conduzindo-nos ao diagnóstico de insuficiência renal, cedem rapidamente ao aporte hídrico endovenoso.
4. Multimorbilidade com frequente predomínio de doença cardiovascular, doença renal, alcoolismo, obesidade e vícios metabólicos, associada a iatrogenia por recusável polipragmasia terapêutica (fármacos anti-arrítmicos, hipotensores, diuréticos,AINS, hipoglicémicos, antidepressores, ansiolíticos, neurolépticos e outros)

Relembremo-nos que, no Idoso, diagnóstico é o que prevalece num terreno de multimorbilidade e que será a doença que predomina a que exclusivamente deve ser alvo de farmacoterapia.

Os efeitos deletérios do calor expressam-se por desidratação consequente à diaforese e traduz-se em fatigabilidade, tonturas, náuseas, cefaleia, polipneia, taquicardia, síndrome confusional, hipotensão e, se o Doente não for socorrido com urgência, surge a lipotímia ou até a síncope e a morte. Esta crítica situação exige, imprescindivelmente, medidas urgentes; contudo, o Doente deve ser colocado, entretanto, num ambiente fresco e deve ser envolvido por toalhas molhadas com água fria, principalmente na cabeça e na região abdominal e, concomitantemente, ingerir água e sumos de fruta.
Como em toda a doença, também nesta patologia a profilaxia é a atitude de excelência; sempre que há notícia meteorológica de calor excessivo, o ambiente deve ser mantido com temperaturas nunca superiores a 25ºC por um sistema de ar condicionado; o Idoso deve vestir-se com roupas largas, de algodão ou de linho e de cor branca ou clara; se sentir calor e transpirar, deve duchar-se com água à temperatura do corpo e, sem mudanças bruscas, diminuír progressivamente a temperatura do banho até que a água fique fria; a ingestão de água, sumos ou leite frios é incontornável, ainda que o Idoso não sinta sede. Porque favorecem a desidratação, as bebidas alcoólicas devem ser excluídas e as açucaradas, os condimentos e as dietas com ausência de sal ( cloreto de sódio) devem suspender-se. O Idoso deverá evitar de saír à rua entre as 11 e as 17 horas e as viagens deverão fazer-se antes das 12 horas e depois das 18 horas, principalmente se o automóvel não tiver a eficiência dum ar condicionado.

Na ausência de patologia o Idoso tem sede, uma sede local com oligosialose caracterizada por diminuição da salivação e resultante não só da involução anatomofisiológica das glândulas salivares consequente da perda de massa protoplásmica metabolicamente activa (células), mas também do progressivo aumento da mono-amino-oxidase (MAO) directamente proporcional à idade cronobiológica do Idoso. Numa visão de consciência teleológica, o aumento da MAO aumenta a sede e diminui a diurese, o que favorece o equilíbrio da balança hídrica, mas também condiciona uma depressividade por degradação das catecolaminas e das indolaminas.
Sintetizando, perante esta complexidade de aparentes incongruências biológicas, salienta-se a inevitabilidade de insistir para que o Idoso beba líquidos, obrigatoriamente em tempo de calor; para que evite expor-se ao sol entre as 11e as 17 horas; para que use ar condicionado; para que use roupa ligeira e larga.
Com estas medidas que devem ser integradas nos hábitos do Idoso, a qualidade de vida existencial melhorará e serão evitadas doenças e também a morte causada pelo calor que, em cada ano, mata milhares de seres humanos.

domingo, 18 de abril de 2010

A Decadência do Senso Comum

Para aceder ao trabalho A Decadência do Senso Comum em versão PDF, por favor clicar aqui

sábado, 17 de abril de 2010

Investigação. Conceptualismo ou Cientismo?

Resumo
O Ser humano é SER e tem um corpo que lhe serve para se caracterizar como ser humano, para comunicar e para existir. O corpo é a materialização do SER; graças a ele, o Homem é entendido na sua globalidade sistémica, situado no tempo e no espaço e em dialéctica. O SER é Essencialidade; é a imagem e a semelhança de potencialidades psíquicas e espirituais em permanente aproximação do limite (inatingível por definição), não obstante paragens, hesitações e retrocessos; é o SER que nos confere universalidade, omnipresença. O SER/EU consubstancia a Vida, a perenidade, o Tempo com ou sem os tempos existenciais de cada ser humano encontrados na perpetuidade do Tempo.

A dimensão espiritual do ser-humano é autopercepcionada para além do corpo, através da consciência, com sentimentos, percepções, premonições, previsões, intuições e convicções, - sabedoria ancestral veículada em arquetípicas memórias transmitidas em silêncios segredados pelo Ser. Esta factualidade, sem base científica, tal como o científico tem sido entendido, não é, por isso, menos real.

O ser humano, o Eu, suporta um corpo que lhe confere existência e, enquanto existente, é consciente do conflito resultante do debate entre os seus pensamentos e emoções  expresso  na ambiência do espaço e do tempo em que se situa. Em sua incompletude, é consciente de ser inconsciente da sua essencialidade; de desconhecer o Processo Mental que, conjecturalmente ocupa o universo entre o Ser e o cérebro e realiza os comportamentos internos (inconscientes e conscientes) e os comportamentos externos da Unidade biopsicossocial, estes outros, já elaborados pelo cérebro em acções cognitivas, afectivas e motoras; sofre o atordoamento que consubstancia a permanente busca do Encontro com um deus, quiçá com Sigo próprio, por vezes consumado só na desistência do existir, numa exuberância de vida nunca antes experimentada.

O impulso, traduzido no cérebro em comportamentos estruturados pelo pensamento, pela emoção e pelo movimento, porventura não se inicia nele; é admissível que ele seja gerado em outra área da psique; - na Mente, isto é, no Processo Mental, como decisão da essencialidade do Ser. O cérebro não é mais que corpo, substrutura do Ser. Não  obstante a sua incontestável importância e constante imprescindibilidade para a Vida existencial, ele não é a génese de todo o conhecimento, mas apenas do substruturado, apenas do conhecimento dimensionado pela psico-biofísica; não do metafísico. Todavia, ele é o único órgão corporal que se pensa a pensar nos seus pensamentos; ele, não conhecendo, é consciente do universo metafísico; em intelectualidade abstrata, toma consciência da inatingibilidade do limite, mas também se reconhece com potencialidades para dele se aproximar infinitamente, pelo pensamento catatimizado pela emoção – psicodinamismo com origem na “psicomatéria” nebulosa dum sentimento intuitivo. O processamento dos sentimentos, da consciência, da previsão, ou da premonição,  ou da intuição que nos conduz, por exemplo, ao entendimento dum diagnóstico desconhecido, por inexistente nos tratados de Medicina, ou à cura incompreensível duma morbidez, não estará no cérebro mas sim, porventura, no Processo Mental que considero ser a articulação entre o Ser (a sua essencialidade) e o corpo (o cérebro); aqui, na corporalidade cerebral, a sabedoria veiculada nos conteúdos ancestrais do inconsciente sofrerá uma metapsicomorfose cognitiva, mediante a tradução bioquímica monoaminérgica, e a neurotransmissão iniciará, então, a sua realização factual, conducente à revelação, ao entendimento diagnóstico ou a cura do estado mórbido, inconcebível à luz da racionalidade, na satisfação da consciência teleológica da espécie, que se identifica com o instinto de conservação da vida (da Vida existencial, direi eu) que se expressa na continuidade existencial do Ser corporizado.

Não obstante o consciente e o subconsciente condicionarem a função cerebral na tradução dos impulsos do Processo Mental, eles são imprescindíveis na dialéctica psicossocial, no âmbito da ética, da moralidade e do convencional. A “psicomatéria” da espiritualidade do médico,  enquanto entregue à missão que justifica a sua Vida existencial,  molda-lhe a relação inter-individual na comunicação com o doente, ainda que sem palavras, apenas com a sua presença tornada presente com o olhar, o afecto, a compaixão; a partir de aqui, o gesto, o toque, a palavra realizam o “milagre” (entre aspas, sublinhe-se), numa ambiência de exaltação, de Felicidade mútua. Esta factualidade está também patente na assistência ao moribundo no trajecto para o seu momento de morte,  assistência que ainda é rara e titubeante pela perplexidade  e pelo assustador que ela é para o iniciado.

Esta desejável potencialidade do médico é corolário da contemplação, isto é, da tomada de consciência de Si; ele, através da  meditação, conduz-se  ao controle da sua interioridade cognitiva e emocional e, finalmente, aos estados metafísicos já referenciados.

Estes aspectos de investigação, não sendo consequentes duma observação experimental resultante dos clássicos e anacronizados critérios de Claude Bernard, são o produto de conceitos como os de Karl Popper que nunca recusou valor científico ao que, não sendo de imediato observável,  contenha critérios epistemológicos que permitam a construção de quadros racionais de pensamento e de interpretação; que  seja uma convicção formada pelas três noções epistémicas de Kant (opinião, crença e saber);  e que não seja infirmado, após a análise do contraditório.

Esta minha proposição temática resulta ainda de conteúdos metafísicos encontrados na admirável expressão poética de Fernando Pessoa:
“Não meu é quanto escrevo” 
“Enganado julguei ser meu o que era meu”
“De quem é o olhar que espreita por meus olhos? E quem continua vendo enquanto estou pensando?”

A poesia é uma preciosa fonte de conhecimento da interioridade do Ser Humano. Os poetas transmitem-nos o que a ciência não alcança.

Isto foi o que me moveu a apresentar-vos as minhas cogitações como contributo para a investigação em psiquiatria e neurociências.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ansiedades

Resumo

Ansiedade, característica do Ser-humano.
Ansiedade exógena ou normal ou ansiedade endógena ou patológica.
Ansiedade difusa com episódios de descompensação.
Parâmetros etiológicos da ansiedade (psicológicos, culturais, sociais, hereditários e metabólicos).
Fobia, sintoma mais frequente e característico da ansiedade (hipocondríase, sociofobia, agorafobia, pânico).
Diagnóstico da ansiedade e diagnóstico diferencial entre ansiedades normal e patológica.
Consequências da ansiedade patológica: tabagismo, alcoolismo, pulsão para drogas, depressão, morte prematura com doença cardio-vascular.
Terapêutica: aspectos psicológicos, sociais, educacionais, metabólicos e somáticos.



A obtenção dos lobos prè-frontais do córtex cerebral que, por hominização, distanciaram o Ser-humano da família taxonómica dos seus antepassados símios, catapultou o Homem para o futuro no qual Ele se projecta, o pensa e o sente em antecipação, num comportamento de previsão (prè-visão). Esta fenomenologia fez do Ser-humano um ser ansioso.
A ansiedade é um estado de preocupação (prè-ocupação); é uma espera desesperada de qualquer coisa, pensada e sentida, a chegar do futuro; é o estado de consciência da frágil condição humana perante o desconhecido; é o conflito entre a consciência de ser senhor-dos-seus-destinos e a submissão ao sentimento de ambivalência perante um fatalismo recusado e simultaneamente aceite. A ansiedade é a vivência duma realidade interna ou externa internalizada, é a sua interpretação cognitiva e afectiva vivida em perspectiva cronológica, na qual o ansioso mobiliza o capital de emoções e de conhecimentos, adquiridos e trazidos do passado, dos espaços e dos tempos em que se situou.
Todo o Ser-humano oscila entre o futuro e o passado, entre a ansiedade e a depressividade, e ansia-se e deprime-se na razão directa do seu humanismo. Assim, não é de estranhar que a ansiedade tenha ocupado médicos, psicólogos, sociólogos, antropólogos, filósofos, escritores e poetas e que todos se tenham empenhado em compreendê-la como característica do Ser-humano.
As expressões de ansiedade são extremamente frequentes. Um estudo que englobou 500 pessoas do concelho de Cascais, 280 das quais foram do sexo feminino, revelou expressividades de ansiedade, consideradas perturbantes, em 80% das mulheres e em 50% dos homens.
A ansiedade pode ser um estado normal, necessário e útil na promoção da Pessoa e na sua defesa perante uma ameaça, ou pode ter uma dimensão muito perturbante e, neste caso, o ansioso necessita de ajuda. Esta última é uma ansiedade que se manifesta desde a infância, é uma ansiedade difusa, permanente e estruturante das personalidades de quem a sofre; é uma ansiedade latente na Pessoa e susceptível de descompensações aos menores estímulos ansiógenos.
Estes dois modelos de ansiedade correspondem a duas entidades que denominarei ansiedade exógena, saudável ou normal e ansiedade endógena ou patológica e patogénica por somatização; na pessoa que a sofre existe uma vulnerabilidade que herdou no espaço e nos tempos intra-uterinos, devido a perturbações nas monoaminas biológicas, expressões de crises emocionais ansiógenas sofridas pela mulher-mãe durante a gestação.
A relação entre a ansiedade (esta perturbação do SER que afecta as tres acções com as quais são elaborados os comportamentos – a cognição, a afectividade e a motricidade) e a doença somática desenvolve-se diferente no jovem e no idoso. No jovem adulto a ansiedade é causa de alteraçõea funcionais cárdio-vasculares, respiratórias, digestivas e outras cuja persistência causa a alteração anatómica, isto é, a doença somática; ao contrário, no idoso, a ansiedade encontra a sua causa no orgânico, na “doença” degenerativa de desgaste, de usura, como sejam a osteo-artrose, a osteoporose, o climatério, a metamorfose corporal e, sobretudo, na multimorbilidade condicionante de invalidez que necessariamente é causa de angústia e de depressão. Em qualquer idade também se observa ansiedade iatrogénica por ingestão de anorexígenos, anfetamínas e outros fármacos.
O diagnóstico das ansiedades (exógena e endógena) baseia-se na interpretação dos comportamentos e de sintomas funcionais e orgânicos. A fobia é a expressão mais característica de ansiedade e, embora apresente grande versatilidade, consideraremos apenas as expressões mais frequentemente reveladas pela pessoa que a sofre:
1. Patomorfismo de fobia social em que o ansioso está inseguro e inibido de comunicar por medo de se expor a críticas.
2. Patomorfismo de pânico frequente no hipocondríaco em que a pessoa tem medo de morrer ou de adoecer; neste caso são quase sempre referidas doenças badaladas, actuais.
3. Patomorfismo de agorafobia que surge repentinamente em espaços fechados, em espaços de grandes dimensões, ou surge em grandes alturas; este desconforto pode evoluír para uma situação de pânico.
4. Patomorfismos de histeria, obsessão, depressão e de disfunção sexual, esta traduzida, no homem, por incapacidade de erecção ou por ejaculação precoce e, na mulher, por disfunção orgástica, dispareunia ou frigidez.
Caracterizado o ansioso, há que diferenciar a ansiedade normal da patológica: se a ansiedade é sociogénica, se é desenvolvida por um motivo, e só por um, que é conhecido e concreto e se progressivamente aumenta, esta ansiedade é exógena, é normal e, circunstancialmente, quem a sofre poderá necessitar de ajuda psicoterápica. É exemplo a espera de um filho que tarda; ouve-se a ambulância e noticia-se o acidente duma criança cuja idade é coincidente. Se a ansiedade surge subitamente sem motivo objectivado, se o ansioso sofre fobias múltiplas sem que lhes conheça razões nem conteúdos, a ansiedade é endógena, é patológica. É exemplo o acordar subitamente, em pânico, durante o sono, por um sintoma sonhado que o ansioso pensa poder causar-lhe a morte; ou o doente ter medo de sentir medo. O medo da morte pode suscitar o suicídio.
Na endogenia há quase sempre uma história familiar e a ansiedade revela-se na infância, na adolescência ou no limiar da adultícia.
Os sintomas da ansiedade endógena são expontâneos, autónomes sem terem sido desencadeados por qualquer circunstância conhecida; os mais frequentes são tonturas ou, mais raramente, vertigens, suores frios, parestesias, sensação envolvente de irrealidade, hipersensibilidade ao ruído e à luz, irritabilidade, taquicardia, extrassistolia, constrição na região prè-cordial, na laringe e na faringe, náusea, dispepsia, meteorismo, diarreia, disfrenia que, não raras vezes, quando intensa e prolongada, conduz à síndrome de hiperventilação. O ansioso tem consciência do seu estado mas sente-se impotente para o dominar e sente, em simultâneo, um impulso irresistível para o cigarro e uma pulsão para o alcool que, aliás, lhe resolve a situação; é por isso que a ansiedade é um considerável factor de risco para o alcoolismo e para a toxicomania; quando neste patomorfismo surge a depressão, o doente pode ter juízos que veiculam o suicídio. A regressão é frequente, com somatizações nas áreas corporais que foram atingidas no acto do nascimento: pele, aparelho respiratório, aparelho circulatório e aparelho digestivo; e também, secundariamente, o labirinto e o sistema músculo-esquelético, somatizações traduzidas respectivamente em dermopatias, disfrenias por vezes asmatiformes, extrassistolias ou taquiarritmias ou “picos” hipertensivos, discinesias gastro-esofágicas ou vesiculares ou intestinais (diarreia) e também tonturas ou síndromes vertiginosas e artralgias ou mialgias. Há que distinguir somatizações de doença somática; o início insidioso da síndrome e a fuga do sintoma relaciona-se com uma psicogenia.
A terapêutica do ansioso deve considerar aspectos psicológicos, sociais, culturais, metabólicos e somáticos. Considerando os primeiros, os psico-sócio-culturais, o doente não deve retirar-se da sua vida habitual, sempre que a ambiência em que se situa não seja exageradamente patogénica. O evitamento da ansiedade, pela fuga às situações ansiógenas ou pela denegação da realidade, é um factor de risco. Deve tentar-se, com a ajuda de psicoterapia, ultrapassar a situação patológica. É neste contexto que o médico, investido de humanismo e de compaixão na relação inter pessoal, cria empatia e assim ele é o melhor ansiolítico. Considerando os aspectos metabólicos, devem usar-se ansiolíticos preferindo a valeriana às benzodiazepinas e, dada a latência da depressão na ansiedade, há vantagem no antidepressivo que tenha uma vertente ansiolítica. Considerando os aspectos somáticos da terapêutica, salientem-se os beta-bloqueantes das catecolaminas, se não houver contra-indicações. A terapêutica deve ter a duração mínima de 6 meses e o fármaco deve ser retirado lenta e progressivamente, num desmame não inferior a 2 meses de duração.
Qualquer doença no Idoso é sempre vivida com ansiedade para além da biofísica, numa perspectiva temporal, onde abundam conteúdos de morte; por isso, toda a psicoterapia eficaz tem de ser uma cronoterapia porque tem de conciliar a Pessoa com o seu futuro.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Homossexualidades

Um comportamento homossexual não satisfaz a Consciência Teleológica da Espécie mas traduz o triunfo do Ser-humano sobre o determinismo da Espécie; afirma-se ele senhor do seu destino. É o triunfo do SER sobre o corpo, da Vida sobre a existência, do “Espírito” sobre a materialidade.
O Ser-humano é, enquanto existente, totalidade psico-somática; possui um corpo que lhe serve para se expressar, durante a Vida existencial, em comportamentos dialécticos condicionados pelos espaços eco-sociais e pelos tempos em que se tem situado. Estes comportamentos são, uns primários e outros adquiridos, elaborados; enquanto estes são aprendidos através da evolução ontogenética, aqueles, os primários, são filogenéticos, isto é, relacionam-se com o desenvolvimento da Espécie, visando a sua perpetuidade, sujeitos ao Princípio da Conservação da Vida existencial do indivíduo ao serviço dos interesses da Espécie. Estes são tres: beber, comer e copular; são comportamentos de grande complexidade, compulsivos, hipotalâmicos, teleonómicos. É por eles que o recém-nascido vive e sobrevive de modo inato e reflexo, sabendo executá-los sem saber que sabe, factualidade mantida através da existência do indivíduo. É por eles que, numa visão universalista, o Ser-humano se transcende em perpetuidade porque cada indivíduo, não obstante albergar a precaridade no seu corpo, é receptáculo de células germinativas que veículam a imortalidade/continuidade da Espécie quando, e só quando, dinamizadas por acções heterossexuais no comportamento da cópula, - comportamento, por si só, primário, hipotalâmico, corporal, elaborado exclusivamente com acções instintivas, teleonómicas, enquanto o indivíduo julga fazer livremente o que faz por fatalidade, mas por uma “fatalidade” contaminada por conveniências, repressões moralistas, inibições.
Sexualidade é um comportamento humano que não é reductível à cópula. Sexualidade é afectividade expressa em acções inter-individuais, as quais podem, ou não, incluír cópula. Em consequência, a sexualidade é hetero e homo. Reduzir a sexualidade à cópula (falsa arquitrave da heterossexualidade) é reduzir a mulher e o homem a seres instintivos, cegos que servem a Espécie impulsionados pelo cio, isto é, é animalizar o ser humano; esta factualidade tem sido e continua submissa a um indesejável clericalismo fixado e anquilosado num obscurantismo fiel às origens da “moral” judaico-cristã repressora, que mergulha as suas raízes no simbolismo do complexo “pecado original” relacionado com a “árvore do conhecimento do Éden” e configurado numa virtual maternidade assexual, sem prazer e, por isso, santificante da mulher. É esta doutrina agonista que, ainda hoje, defende a procriação como justificação exclusiva da heterossexualidade e que anatematiza a homossexualidade.
A homossexualidade é um comportamento latente em todo o ser-humano, é um estádio do desenvolvimento afectivo-sexual, como se infere do facto de toda a relação primária sujeito-objectum, até à idade de seis meses, ser egocêntrica, isto é, o Outro é, para a criança, apenas a sensação d’Ele; é a emoção da própria criança e a sensação na mesma (criança). Este contexto permanece, de forma inconsciente, durante toda a existência vivida do indivíduo ( hoje criança, mais tarde adolescente, adulto ou idoso), já que uma realidade externa só o é se for, e só depois de ser, uma realidade interna; é que uma realidade é para cada ser o que cada qual pensa e sente dela. A sexualidade implicitando uma relação com o Outro, na sequência objectivada – interiorizada –operada –concretizada, é marcada por uma problemática relacional de dimensão social, conflitual, estruturante e histórica e confere uma evolução afectivo-sexual (hetero ou homo) ao Ser.
Esta dimensão inicia-se na família e a sua génese está no Édipo.
A homossexualidade, assimilada através duma linguagem corporal, não sendo mórbida, pode apresentar-se com expressões que vão do “normal” a um patomorfismo que traduz uma perturbação da afectividade, expressões que são mecanismos de defesa duma angústia depressiva ou fóbica iniciada, experimentada e estruturada antecedentemente, entre os seis meses e os cinco anos de idade cronológica da criança; portanto, a patologia não está na homossexualidade mas sim no ser humano que a expressa.
Este psicomorfismo latente através da Vida existencial do Ser – humano apresenta quatro modelos:
1. Ser inseguro, imaturo, com uma homossexualidade perversa ou pura da relação mãe –criança no estádio prè-Edipiano, coincidente com a fase sensório-motora de Piaget, em que a criança desenvolve progressivamente uma sexualidade em Si, de Si e para Si, isto é, a criança é, em simultâneo, sujeito e objectum. Este contexto, de cariz homossexual, revela-se na heterossexualidade, quando o Ser-humano deixa de se amar em Si para se amar no Outro; o homem, por exemplo, projecta-se na mulher e ama-se nela para, mais tarde, atingida a maturidade afectiva, ser Ser para Outrem.
2. Ser neurótico com uma homossexualidade na qual revela misoginia por recusa do Édipo e de todos os seres semelhantes à mãe.
3. Ser psicótico esforçando-se em reafirmar o ego fragilizado numa super estima mórbida; há regressão à fase edipiana durante a qual, para a criança, o Ser desejado e amado (mãe) era aquele que gostava mais dela (criança) e não aquele de quem ela (criança) mais gostava. O indivíduo, nesta perturbação, aparece como Ser controlador do Outro; é a génese do ciume. Os homossexuais psicóticos (este contexto aparece também na heterossexualidade) não toleram interferências de terceiros e, quando as há, tornam-se agressivos até ao crime. Há regressão ao estádio da triangulação em que a criança se sentia privada da relação linear e exclusiva com sua mãe por aparecimento do pai; a mãe, não obstante gostar dela, gostava também do pai; isto é, no seu espaço surge uma ameaça que tem de ser destruída; está então estabelecida uma dialéctica de agressividade que consubstancia o ciúme.
4. Ser saudável com uma homossexualidade normal; é este um estádio de desenvolvimento e de transição, frequente em idades prè- púberes, para a heterossexualidade normal.
A doença da afectividade pode causar paragem ou atrazo na evolução do desenvolvimento afectivo e perturbar gravemente a sexualidade normal seja a homossexualidade ou a heterossexualidade.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Nada

Na existência, habitualmente vivida alienadamente, "Nada" é coisa nenhuma; é também um mito, - o Ser humano, porque desatento ao viver a sua existência, necessita de mitos; é ainda uma palavra que, em contexto, significa alguma coisa recusada, minimizada, anulada. "Nada" é algo esquecido no subconsciente ou no Inconsciente. Nunca o pensamento, a alegria e a tristeza, ainda que enterrados na nossa interioridade, fundeados no subconsciente ou desconhecidos no Inconsciente, poderão perder-se no "Nada"; eles influenciam e condicionam as acções e os comportamentos cognitivos e emocionais, os nossos gostos, preferências e decisões mesmo quando o nosso existir paulatinamente declina na lenta adaptação à "morte". O arquetípico Nada é o Todo.

Veneza

Havemos de seguir em frente o itinerário de regresso a Veneza.
Hei-de palmilhar aquelas ruas marginais que me levaram ao cais, onde encontrei a alma veneziana de gente sem nome, do marinheiro, do estudante, do artista, do boémio, do intelectual, do angustiado, - do povo de Veneza.
Ao entardecer, quando começa a haver poente no canal e o Relógio da Torre badala as sete, hei-de sentar-me convosco numa daquelas mesas que atravancam São Marcos, a saborear o gelado com o prazer do costume mas tão diferente do habitual, naquele lugar e naquela hora, porque alheado na emoção causada pelo fascínio daquela praça - chic prostituta que, ao crepúsculo, entrega com elegância e sensualidade o seu corpo à multidão desconhecida e promíscua a deambular, entre revoadas de pombos, ao som de melodias de Chopin, de List e Debussy vindas das Arcadas,executadas por castiças orquestras; e, à mesma hora e no mesmo lugar, entrega a sua alma aos que, já nostálgicos, partem nas gôndolas, e aos apaixonados, aos artistas e também a mim, emocionalmente refém dum fascínio que me perde no passado imagético feito realidade naquele lugar e àquela hora.
Havemos de voltar a viver São Marcos. Temos de regressar a Veneza.

Tempo

A Felicidade é conteúdo do Tempo, do Eterno Presente; disse-me Einstein, numa destas noites, em um inesquecível sonho.
No Tempo-Felicidade não encontro saudade de passados, nem incertezas do presente, nem a inquietação de futuro; não encontro a velhice nem a infância, não encontro a adolescência nem a adultícia -- interpretações de percurso pseudocientíficas, tempos de ilusões, momentos de alienação.
Continuarei Feliz no Tempo, tempo sem Princípio nem Fim, continuarei Feliz em Eternidade; mas hei-de voltar, dizer isto mesmo e prosseguir até ao limite, até além de mais além, até ONDE – virtualidade necessária às minhas cogitações e, pelas minhas limitadas aptidões, imprescindível nos meus curtos vôos com asas feitas de resquícios de “penas” que me habitam o inconsciente.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Paris

A emoção vagueava no atmosférico que unia os circunstantes anónimos que passavam, nos quais valores estéticos, culturais, humanos, eram traídos por um colorido pecaminoso de fascínio espectadorista que gritava Amor e Liberdade. A tontura febril dos deslumbramentos conferia uma catatimia ao ambiente de afecto que unia aquela gente em sentimentos de passado mítico, de anacronismos deliciosos feitos presente e projectados no futuro a cantar ansiedade de alegria de viver.
Foi uma noite interiorizada, em Paris, feita de sonho de mistérios mais reais do que a Rua onde me esquecia.

Memória

As mencionadas características referentes à memória nada têm de patológico; pelo contrário, expressam vigor e saúde mental.
O cérebro saudavel recebe informações, integra-as e trata-as de modo a aplicá-las eficientemente, respondendo assim a desejos e satisfazendo necessidades da própria pessoa.
É esta integração e este armazenamento a génese da memória cuja fidelidade, duração e incremento são tanto maiores quanto maior é a actividade cerebral exigida pela mente, isto é, pelo processo mental. Esta actividade psíquica, que deve ser repetitiva para que a memória se perpetue, consiste na conjugação da cognição com a afectividade, isto é, do pensamento com a emoção que o dinamiza e agiganta. É a perda de capacidade de admirar, de se apaixonar, conjugada com inactividade cognitiva que se verifica em muitos senescentes, que gera o esquecimento progressivo em razão inversa à aquisição do conhecimento,isto é, o senil esquece factos do tempo recente para o antigo; os últimos actos a esquecer são o de respirar e o de beber (mamar).
O cérebro regenera-se permanentemente pelo seu uso potenciado (trabalhar apaixonadamente); os neurónios regeneram-se preferencialmente nas zonas cerebrais mais usadas.
Aprendemos com o hemisfério direito do cérebro; memorizamos mercê da coordenação de várias regiões com destaque para o hipocampo, mas também com a amígdala límbica e com os lobos frontais, adquirindo aprendizagem, experiência e sabedoria, instrumental psíquico usado nos comportamentos extrínsecos e nos intrinsecos (o cérebro é o único órgão corporal que se pensa; pensa no pensamento); e comportamo-nos com o hemisfério esquerdo.
Como se infere, as suas preocupações traduzem-se em excelentes promessas futuras; elas expressam comportamentos que atrazam a involução das regiões referenciadas aprendendo, memorizando e agindo através da cognição , dos afectos, da memória, da intuição, da previsão e até, raras vezes, da premonição.
Tudo isto, na sua globalidade, é sabedoria, triunfo, alegria, felicidade; confere resiliência psíquica e consciência de Si.