segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Psicopatologias
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
"A tua fé te salvou"
Todo o comportamento bio-psico-social é determinado pelo pensamento e pelo sentimento; isto é, a qualidade do psicossomatismo, do fisiológico e da sociabilidade é dependente da cognição, principalmente quando esta é exaltada pela emoção. Assim também, no processo terapêutico, o fármaco intervém na cura da doença só quando o médico o investe com intenção no Doente, ao qual transmite a sua crença; isto é, o Doente cura-se só quando crê que vai curar-se. É o processo da capacidade de auto-cura que todo o Ser-humano possui quando consciente de Si.
O acto de curar, de reequilibrar um ser perturbado, de o re-adaptar à situação através duma re-aprendizagem a ser feliz, faz-se mobilizando a Mente pela acção directa do médico auxiliada, quase sempre, por uma simbologia como é a do fármaco; (a Mente não é uma coisa, é um processo que se desenvolve entre o SER/EU e o corpo/cérebro,- é o Processo Mental).
Tudo que é iniciado pelo Doente, ou no Doente quando consciente de Si, é iniciado com pensamento e emoção; o Ser-humano quando se perturba cria doenças e pensando-as e sofrendo-as mais se perturbará, isto é, far-se-á maior Doente; o Doente não o é se não estiver perturbado, se não pensar que é, se não tiver conhecimento da perturbação que pode ser uma doença, real ou imaginária, mas sempre real para o próprio. É que o Doente não é quem tem doença mas sim quem está perturbado.
Todo o pensamento e toda a emoção se somatizam; o pensamento pessimista, a infelicidade, a desgraça, a tristeza, a separação, os ódios perturbam o Ser-humano, fazem-no Doente que expressa as suas mágoas não verbalizadas no palco do corpo numa linguagem chamada doença, a qual justifica o pedido de auxílio condicionado pelo sofrimento; na realidade, essencialmente, os doentes sofrem do pensar e do sentir mas, por vezes, a doença está subjacente. Pensamentos e emoções "positivas" de união, solidariedade, Felicidade, Amor evitam e curam doenças não só porque estimulam o sistema imunitário de auto-cura, mas também porque restituem a alegria ao Ser perturbado. A perturbação causada pela mesma circunstância não é igual para todo o Ser-humano porque as coisas valem apenas a sua interpretação, são o que cada qual pensa e sente delas e cada um sente e pensa com a "psicomatéria" afectiva e cognitiva que possui, a qual é diferente de Ser para Ser porque foi adquirida não só numa aprendizagem prè-natal impressa "geneticamente" no Espaço e no Tempo, donde cada Ser tirou o seu tempo e o seu espaço existencial para uma outra aprendizagem em dialéctica com a ambiência eco-social e condicionada à "Consciência teleológica da Espécie"(?).
É para além das aparências sensíveis que se escondem as realidades, o númeno ainda inatingível mas já intuído e em investigação a caminho do "BIG-BANG" científico.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Arco-íris da Relação
- Tentar compreendê-lo e que ele perceba que é compreendido;
- Realçar o seu sofrimento; mas nunca valorizar a doença, porque ele não se considera doente;
- Encaminhá-lo para a psiquiatria, o que só será possível se confiar no seu médico.
domingo, 4 de maio de 2008
Direcção incompetente
Foi em consequência da Guerra Colonial de má memória que, pela 1ª vez e pela voz do psiquiatra Dr. Afonso De Albuquerque, tomei conhecimento duma entidade mórbida destruidora da saúde psicológica de militares que, fragilizados pela dramática ambiência e pela coacção ditatorial, estavam privados de capacidades para reagirem à situação perigosamente doentia. Refiro-me ao "Distúrbio de Stress post-traumático" (DSPT)
Hoje constatam-se novas vítimas:
- Professores vitimados por agressões psicológicas e físicas de jovens reactivos estruturalmente mal formados.
- Domésticas vitimadas pelos companheiros carentes de ética e de moral, com quem vivem em união de facto.
- Trabalhadores, quase sempre do sexo feminino, vítimas de chefias incompetentes porque carentes de saúde mental, neuróticas que se expressam em autoritarismos reactivos aos seus sentimentos de inferioridade e às suas frustrações que descarregam nas pessoas, como os militares, indefesas e submissas.
O DSPT,resultante do assédio moral sobre o trabalhador, é causa de graves consequências físicas, psicológicas e sociais com efeitos prejudiciais na actividade laboral; origina, na vítima, doença somática em zonas preferenciais, tais como a pele (eczema), o aparelho respiratório (asma), o aparelho cárdio-circulatório (arritmias, hipertensão arterial), o aparelho digestivo (úlceras gástricas e duodenais, discinesias); diminui a imunidade com consequente receptividade a graves infecções, — a tuberculose pulmonar é uma delas. Origina também psicopatologia (ansiedade, depressão, insegurança, fobias, etc.). É causa de perturbações laborais por desmotivação, com efeitos na qualidade e na quantidade, diminuíndo a produção; atinge a antroposofia estruturante de todo ser-humano.
Conhecidos estes efeitos deletérios e as suas amplas consequências, há que suprimir a causa, mas esta decisão é apanágio do governante; a pessoa que chefia deverá ser escolhida criteriosamente entre gente emocionalmente forte e equilibrada que tenha a capacidade de sentir, em Si, a interioridade dos trabalhadores para que os possa motivar a trabalhar para o objectivo comum, com entusiasmo, com emoção, uma emoção que estimule a acção.
Chefiar não é dominar nem é criar stress; o stress incapacita porque rouba motivação e dá doença. A chefia deve ter autoridade forte feita de assertividade mas, para a ter, não pode ser autoritária.
Não pode haver desenvolvimento válido com silenciados e oprimidos.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Ninguém nasce mau
O Homem só pode ser entendido, em sua existência, em indissociabilidade sistêmica, como totalidade psico-somática indivisível, enquanto existente, situado no espaço e no tempo e em dialética com o ambiente.
O comportamento do Homem é o corolário da sua estrutura; Freud, Miguel Ângelo, Popper, Edison, Camões, Paganini, Jesus, Marx, Hitler,etc., são exemplos. A obra de cada um destes homens é a expressão da sua estrutura; Freud não podia ter sido um homicida, Jesus nunca poderia agir como Sócrates. Todavia, a estrutura do Homem não implicita fatalidades. Sem dúvida que a biologia dos comportamentos tem uma base filogenética, a qual designa o indelével do inato mas, o ambiente eco-social intervém soberanamente e, à medida que o adquirido estrutura o Homem, o inato perde grandeza; assim, o mérito ou o demérito do Ser-Humano resulta, em grande parte, do adquirido através de uma educação. A criança não nasce má; é condicionada inconscientemente para a maldade por uma educação deficitária ou defeituosa, agressiva que gera, mais tarde, inseguranças, ansiedades, depressões, ódios, toxidependências, delinquência e comportamentos homicidas. Fatores sociais, com destaque para o abandono familiar e para a pobreza, em tempos de primeira infância, muito contribuem para aquela desastrosa estruturação do Ser-Humano.
quarta-feira, 5 de março de 2008
MEDICINA e profissão médica
Hoje os meios de comunicação de massas estão vazios de altruísmo a favor de egoísmos que alimentam o sensacionalismo e de ignorância imposta através de meias verdades ditas com intenção; consequentemente são fontes de solidão e de desmotivação porque egoísmo é solidão afectiva, ignorância é solidão cognitiva e a solidão desmotiva e deprime.
Entre muitas outras vítimas, alguns médicos sentem-se usurpados e refugiam-se na sua interioridade magoada, são quérulos; outros contestam direitos, denegam obrigações e projectam-se num futuro imediato em incertezas angustiantes; uns e outros descem ao nível dos "governantes," os autores de tal ambiência; esquecem a Medicina, exaltam a profissão porque se esquecem que é a Medicina que confere respeitabilidade, grandeza e nobreza ao profissional médico e que o distingue daqueles "governantes" de curta visão, que lobrigam apenas materialidade; esquecem que é pela Medicina que eles se eternizam em magnanimidade perante o Homem sofredor.
É um grande privilégio ser Médico quando a sua interioridade se verte, em compaixão universalizada, na entrega ao sofrimento do Ser-Humano, sem horários perturbantes ou interesses menores, em catatimia compassiva.
Os "relógios-de-ponto", os horários, poderão ser adequados ao funcionário mas nunca ao Médico porque o sofrimento também não os tem.
Exercer Medicina é muito mais que aplicar ciência médica e tecnologia; é mais que curar doenças. Exercer Medicina é um transcendentalismo epistemológico aplicado ao Doente; é um misto de ciência e conhecimento numénico, isto é, o que está para além das aparências sensíveis.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
É já tarde para bem envelhecer
O Ser-Humano deve consciencializar-se do seu senescer e meditar na velhice que o espera no futuro para que, com antecedência, aprenda a envelhecer com a melhor qualidade de vida existencial possível, nas suas vertentes biológica, psicológica e social. O Idoso não deve ser avaliado nem ele mesmo se deve avaliar pelo que perdeu mas sim pelo que resta; porém, mais importante é o que ainda vai ser adquirido através do seu viver existencial, preferencialmente com maior investimento em valores espirituais que nos materiais nos quais se consubstancia a precaridade; quem investe apenas nestes vai entrar em falência em idades senis. Viver é uma permanente emergência continuada do "começar" porque só está vivo e continua vivendo quem intencionalmente ainda vai viver. A velhice é uma perturbação desta permanência; é uma inadaptação ao "começar"; é um início de morte; é uma desistência porque morrer é desistir de existir e de viver a existência. Amadurecemos no tempo vivido mas envelhecemos no tempo medido, porque em actividade vivemos e morremos em inactividade.
A psicopatologia ocupa-se da relação perturbada; o seu modelo estrutural é a neurose que é uma doença da comunicação. A neurose mais frequente no velho é a depressão cuja cura se obtém fundamentalmente pela relação empática; o fármaco anti-depressivo actua principalmente no sintoma e revela-se eficiente só e apenas quando investido de intenção, intenção criada pelo médico e introjectada pelo Doente. A terapia tem de ser psicológica e filosófica porque no Idoso deprimido vive, em permanência, a dialéctica entre Eros e Thanatos. A comunicação e a compaixão são fundamentais na relação terapêutica; a relação entre o médico e o Idoso-Doente conduz a um estado de osmose afectiva que exige do médico mais Arte que ciência.
Essencialmente são quatro as coordenadas que determinam a saúde do Idoso:
- Informação aos jovens e aos velhos;
- Valorização e aproveitamento das faculdades que restam no Idoso;
- Reintegração do Idoso no sistema social e comunicação entre o Idoso e a comunidade;
- Felicidade que resulta do equilíbrio bio-psico-social.
Quem ama e é feliz não é doente ainda que tenha doença.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
A Sede no Idoso
Numa visão bio-física, o envelhecimento do Ser-Humano caracteriza-se pela perda de massa protoplásmica metabolicamente activa, isto é, pela perda de células e, consequentemente, por declínio fisiológico; a estas mudanças biológicas outras se juntam, - são reacções que sendo perturbantes, são também homeostáticas como, por exemplo, o aumento da mono-amino-oxidase (MAO) directamente proporcional à idade cronológica do Idoso. Estas mudanças constituem o fundamento dos comportamentos que paulatina e progressivamente se desenvolvem na Vida existencial, através da senescência; refiro-me ao beber, à depressividade, à diurese, à sede e a outros.
Na ausência de patologia, o Idoso tem sede, uma sede local com oligosialose que se caracteriza por diminuição da salivação (aptialismo) e que resulta não só da involução anatómica e fisiológica das glândulas salivares, mas também do aumento da MAO, enzima que degrada as catecolaminas o que, por si só, aumenta a sede, mas diminui a diurese; consequentemente e respectivamente repõem e poupam a massa hídrica, isto é, aumentam-na.
Esta hipotrofia e declínio das glândulas salivares conjugada com o progressivo aumento da MAO explica a simultaneidade, no Idoso, da sede e da depressão; a diminuição da diurese tem originado alguns critérios errados neste contexto, - a administração de diuréticos os quais, obviamente agravam a situação. Toda a farmacoterapia do neuroticismo depressivo no Idoso, nomeadamente os inibidores da MAO (IMAO), aumenta as monoaminas biológicas e este aumento das catecolaminas e das indolaminas inibe a sede e melhora o estado depressivo, mas também aumenta a diurese o que pode agravar o desequilíbrio da balança hídrica pelo que é indispensável que o Idoso, mesmo na ausência da sede, beba água, sumos,infusões e outros líquidos.
Numa visão neuropsicológica, imprescindível nestas reflexões, a sede, esse interior grito biológico da homeostasia, condiciona a necessidade e a motivação que despertam o Idoso para o comportamento primário reequilibrante, o de beber; este psicodinamismo encontra a sua sede no hipotálamo que é a área encefálica da necessidade e da motivação e que é integrador dos sinais internos homeostáticos juntamente com o sistema límbico e o córtex órbito-frontal, circuito de interligação de todas aquelas áreas na psicofuncionalidade as quais são alvo de hipotrofia, hipofunção, inibições sociogénicas, lesões anatómicas, de factores condicionantes de variados patomorfismos, nomeadamente deste aqui referenciado.
Nos anos 50 do século passado tive na minha práxis médica alguns doentes então considerados idosos por terem mais de 65 anos; eram doentes mais envelhecidos que velhos que sofriam de aptialismo sem patologia conhecida como a síndrome de Sjögren, a diabétis, a desidratação, nefropatias, avitaminoses; alguns eram angustiados, outros (a maioria) eram dependentes do tabaco. Havia, então, no universo farmacêutico, ampolas injectáveis de "extracto de placenta" produzidas num laboratório português conhecido por Seixas Palma e por um outro suíço, laboratório Berna. O extracto de placenta tinha uma potencialidade notável não só na cura da oligosialose/aptialismo, mas também noutras situações patológicas tais como úlcera do colo do útero, úlceras varicosas, e outras. Mais tarde, ainda na década de 50, tive a oportunidade de verificar alguns notáveis sucessos de Paul Niehans que, em Genêve, procedia a terapias semelhantes mas mais complexas.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
A depressão na comunidade envelhecida
No Idoso senil são frequentes delírios que acompanham depressões reactivas monopolares manifestadas na defesa do valor narcísico.
São depressões relacionadas com perdas de forte colorido afectivo, com incidência e fixação no Próprio - expressão de perda da imagem narcísica idealística.
Estas características condicionam uma depressão predominantemente sociogénica, por isso de início tardio e precedida de isolamento (comportamento do Próprio) ou consequente à marginalização que a sociedade impõe ao Idoso.
Esta entidade psicopatológica, sendo quási sempre uma associação da continuidade à cronicidade, antagoniza a denominação "início tardio" não obstante o seu início estar relacionado com o aumento da MAO que acompanha o aumento da idade, e situar-se habitualmente nos tempos post-aposentação quando o Ser-Humano perde estatuto social numa visão antroposófica.
São os laços sócio-afectivos que constituem as sólidas malhas da dialéctica do Homem situado e que pertencem predominantemente ao seu "mundo" do trabalho.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Um Critério de Urgência
URGÊNCIA é uma SITUAÇÃO - situação causada por uma EMERGÊNCIA de CRISE. Crise significa mudança. Situação é dialéctica entre a Pessoa e a ambiência. Quando nesta dialéctica está emergente a incapacidade e a impossibilidade de a Pessoa se defender, isto é, quando o Doente está caoticamente entregue ao "destino", Ele necessita de ser ajudado com URGÊNCIA; por exemplo, o delírio agudo pode conduzir a Pessoa à "morte" com aumento da urémia, dos leucócitos, da febre e doutras expressões reactivas do SER perturbado.
Neste contexto a URGÊNCIA não é a doença, mas é a SITUAÇÃO do Doente; não obstante, a doença está sub-jacente.
Será importante meditar esta diferença porque uma doença sentida e pensada, isto é, vivida pelo Doente, seja ela real ou irreal para o médico, ela é sempre uma realidade angustiante para o Doente e condiciona-lhe uma SITUAÇÃO de ansiedade que deve ser considerada pelo médico como URGÊNCIA e deve ser desbloqueada pelo diálogo terapêutico, operando o pensamento. Operar é mudar, transformar.
É que na realidade, a causa directa do sofrimento do Doente é o pensar e o sentir. O conceito de URGÊNCIA é inerente à Pessoa-Doente e não à doença; não deve ser a doença que impõe a URGÊNCIA, mas sim a Pessoa perturbada que, em SITUAÇÃO caótica apresenta a doença.