domingo, 18 de abril de 2010

A Decadência do Senso Comum

Para aceder ao trabalho A Decadência do Senso Comum em versão PDF, por favor clicar aqui

sábado, 17 de abril de 2010

Investigação. Conceptualismo ou Cientismo?

Resumo
O Ser humano é SER e tem um corpo que lhe serve para se caracterizar como ser humano, para comunicar e para existir. O corpo é a materialização do SER; graças a ele, o Homem é entendido na sua globalidade sistémica, situado no tempo e no espaço e em dialéctica. O SER é Essencialidade; é a imagem e a semelhança de potencialidades psíquicas e espirituais em permanente aproximação do limite (inatingível por definição), não obstante paragens, hesitações e retrocessos; é o SER que nos confere universalidade, omnipresença. O SER/EU consubstancia a Vida, a perenidade, o Tempo com ou sem os tempos existenciais de cada ser humano encontrados na perpetuidade do Tempo.

A dimensão espiritual do ser-humano é autopercepcionada para além do corpo, através da consciência, com sentimentos, percepções, premonições, previsões, intuições e convicções, - sabedoria ancestral veículada em arquetípicas memórias transmitidas em silêncios segredados pelo Ser. Esta factualidade, sem base científica, tal como o científico tem sido entendido, não é, por isso, menos real.

O ser humano, o Eu, suporta um corpo que lhe confere existência e, enquanto existente, é consciente do conflito resultante do debate entre os seus pensamentos e emoções  expresso  na ambiência do espaço e do tempo em que se situa. Em sua incompletude, é consciente de ser inconsciente da sua essencialidade; de desconhecer o Processo Mental que, conjecturalmente ocupa o universo entre o Ser e o cérebro e realiza os comportamentos internos (inconscientes e conscientes) e os comportamentos externos da Unidade biopsicossocial, estes outros, já elaborados pelo cérebro em acções cognitivas, afectivas e motoras; sofre o atordoamento que consubstancia a permanente busca do Encontro com um deus, quiçá com Sigo próprio, por vezes consumado só na desistência do existir, numa exuberância de vida nunca antes experimentada.

O impulso, traduzido no cérebro em comportamentos estruturados pelo pensamento, pela emoção e pelo movimento, porventura não se inicia nele; é admissível que ele seja gerado em outra área da psique; - na Mente, isto é, no Processo Mental, como decisão da essencialidade do Ser. O cérebro não é mais que corpo, substrutura do Ser. Não  obstante a sua incontestável importância e constante imprescindibilidade para a Vida existencial, ele não é a génese de todo o conhecimento, mas apenas do substruturado, apenas do conhecimento dimensionado pela psico-biofísica; não do metafísico. Todavia, ele é o único órgão corporal que se pensa a pensar nos seus pensamentos; ele, não conhecendo, é consciente do universo metafísico; em intelectualidade abstrata, toma consciência da inatingibilidade do limite, mas também se reconhece com potencialidades para dele se aproximar infinitamente, pelo pensamento catatimizado pela emoção – psicodinamismo com origem na “psicomatéria” nebulosa dum sentimento intuitivo. O processamento dos sentimentos, da consciência, da previsão, ou da premonição,  ou da intuição que nos conduz, por exemplo, ao entendimento dum diagnóstico desconhecido, por inexistente nos tratados de Medicina, ou à cura incompreensível duma morbidez, não estará no cérebro mas sim, porventura, no Processo Mental que considero ser a articulação entre o Ser (a sua essencialidade) e o corpo (o cérebro); aqui, na corporalidade cerebral, a sabedoria veiculada nos conteúdos ancestrais do inconsciente sofrerá uma metapsicomorfose cognitiva, mediante a tradução bioquímica monoaminérgica, e a neurotransmissão iniciará, então, a sua realização factual, conducente à revelação, ao entendimento diagnóstico ou a cura do estado mórbido, inconcebível à luz da racionalidade, na satisfação da consciência teleológica da espécie, que se identifica com o instinto de conservação da vida (da Vida existencial, direi eu) que se expressa na continuidade existencial do Ser corporizado.

Não obstante o consciente e o subconsciente condicionarem a função cerebral na tradução dos impulsos do Processo Mental, eles são imprescindíveis na dialéctica psicossocial, no âmbito da ética, da moralidade e do convencional. A “psicomatéria” da espiritualidade do médico,  enquanto entregue à missão que justifica a sua Vida existencial,  molda-lhe a relação inter-individual na comunicação com o doente, ainda que sem palavras, apenas com a sua presença tornada presente com o olhar, o afecto, a compaixão; a partir de aqui, o gesto, o toque, a palavra realizam o “milagre” (entre aspas, sublinhe-se), numa ambiência de exaltação, de Felicidade mútua. Esta factualidade está também patente na assistência ao moribundo no trajecto para o seu momento de morte,  assistência que ainda é rara e titubeante pela perplexidade  e pelo assustador que ela é para o iniciado.

Esta desejável potencialidade do médico é corolário da contemplação, isto é, da tomada de consciência de Si; ele, através da  meditação, conduz-se  ao controle da sua interioridade cognitiva e emocional e, finalmente, aos estados metafísicos já referenciados.

Estes aspectos de investigação, não sendo consequentes duma observação experimental resultante dos clássicos e anacronizados critérios de Claude Bernard, são o produto de conceitos como os de Karl Popper que nunca recusou valor científico ao que, não sendo de imediato observável,  contenha critérios epistemológicos que permitam a construção de quadros racionais de pensamento e de interpretação; que  seja uma convicção formada pelas três noções epistémicas de Kant (opinião, crença e saber);  e que não seja infirmado, após a análise do contraditório.

Esta minha proposição temática resulta ainda de conteúdos metafísicos encontrados na admirável expressão poética de Fernando Pessoa:
“Não meu é quanto escrevo” 
“Enganado julguei ser meu o que era meu”
“De quem é o olhar que espreita por meus olhos? E quem continua vendo enquanto estou pensando?”

A poesia é uma preciosa fonte de conhecimento da interioridade do Ser Humano. Os poetas transmitem-nos o que a ciência não alcança.

Isto foi o que me moveu a apresentar-vos as minhas cogitações como contributo para a investigação em psiquiatria e neurociências.