sexta-feira, 9 de maio de 2008

Arco-íris da Relação

O ambiente, o atmosférico, o que está entre os seres humanos é um factor extremamente importante porque é o veículo condicionante da comunicação, da relação inter-individual. É o ambiente que une e afasta pessoas; muitas vezes o ambiente é contaminado e sempre moldado pelos seres humanos.
A psicopatologia é a ciência que se ocupa da relação perturbada; a neurose é o seu modelo estrutural porque é uma doença da comunicação.
A Pessoa que não verbaliza serve-se do seu corpo para se expressar; muitas vezes esta expressão chama-se doença, mas pode também ser terapia, principalmente no Idoso marginalizado e amordaçado, despojado da sua autonomia. Quanto melhor for a sociabilidade menos necessidade há de ter a doença versus sintoma, modelo de autoterapia re-equilibrante. As linhas do reequilíbrio podem actuar como curativas ou como patogénicas; a somatização é um mecanismo de defesa reequilibrante da homeostasia; por isso, tratar a "doença" somática sem abordar o conflito psíquico etiológico é correr o risco de iatrogenizar o Doente.
O início insidioso duma patologia expressa mais uma psicogenia do que uma doença somática.
A recidiva da patologia é um factor que exige uma revisão do diagnóstico, das interpretações patogénicas ou da terapêutica.
A doença é o conteúdo cognitivo e afectivo do Homem perturbado que não verbaliza a sua perturbação; sem afectividade não há comunicação.
Quando a situação mórbida é grave a cooperação do Doente melhora e é facilitada a relação inter-individual. Don Quijote deixou de alucinar na agonia.
É no Doente psicótico, Ser fortemente perturbável e perturbante, que se verificam as maiores e as mais graves doenças da relação, o que exige uma grande atenção e profunda observação de sinais iniciais desta destruidora perturbação do Ser:  "o mundo está diferente" sic;  "algo de estranho anda no ar" sic; "o prédio em frente... máquinas, fios”...sic. Revela grande  perplexidade face ao que está a acontecer. Depois surgem alterações dos afectos (o Doente ri de factos tristes), e alterações perceptivas, ideação delirante. O delírio é o único modelo do psicótico comunicar o seu sofrimento que é muito, e profundamente humano. O esquizofrénico é hipersensível; o autismo e outras facetas comportamentais resultam de ele sentir agredida a sua sensibilidade; não devemos fixá-lo porque os olhos de terceiros têm para ele um significado delirante, assim como também o seu próprio olhar frente ao espelho, quando não se reconhece, quando ele é "Outro Ele".
As medidas a tomar são urgentes e resumem-se a três:
  1. Tentar compreendê-lo e que ele perceba que é compreendido;
  2. Realçar o seu sofrimento; mas nunca valorizar a doença, porque ele não se considera doente;
  3. Encaminhá-lo para a psiquiatria, o que só será possível se confiar no seu médico.

Muitas vezes, no jóvem, o psicoticismo é substituído pela "droga dura," onde ele encontra uma possível união tácita; a toxicodependência traduz a conquista duma mística obtida através da droga, quase sempre porque a sociedade, voltada para os valores materiais, nega ao jovem a espiritualidade.
A psicanálise analisa e interpreta, não empatiza; não obstante, o atmosférico relacional poder colorir-se de afecto, pelo fenómeno da transferência; ainda assim, não deverá aplicar-se na esquizofrenia como terapia, salvo raríssimas excepções.
O Ser humano incapaz, durante o ano, de se expressar porque submisso a convenções e a valores sociais, encontra no carnaval liberalização para escoar as suas tensões sociais reprimidas e, por isso, patogénicas, revelando assim a sua psicopatologia de temática mística, mítica, histórica, erótica ou outra; por isso o Carnaval confere protecção reequilibrante à sociedade. O carnaval é o orgasmo dos impotentes.
Valor é um sistema de convicções convencionadas que deve ser sujeito a juízo crítico; valor não é o que é, é o que deve ser de acordo com as conveniências políticas, económicas, mitológicas e outras..
Quando a materialidade for ultrapassada pela Arte e pelo Amor, o Homem será sábio.


domingo, 4 de maio de 2008

Direcção incompetente

Foi em consequência da Guerra Colonial de má memória que, pela 1ª vez e pela voz do psiquiatra Dr. Afonso De Albuquerque, tomei conhecimento duma entidade mórbida destruidora da saúde psicológica de militares que, fragilizados pela dramática ambiência e pela coacção ditatorial, estavam privados de capacidades para reagirem à situação perigosamente doentia. Refiro-me ao "Distúrbio de Stress post-traumático" (DSPT)

Hoje constatam-se novas vítimas:

  • Professores vitimados por agressões psicológicas e físicas de jovens reactivos estruturalmente mal formados.
  • Domésticas vitimadas pelos companheiros carentes de ética e de moral, com quem vivem em união de facto.
  • Trabalhadores, quase sempre do sexo feminino, vítimas de chefias incompetentes porque carentes de saúde mental, neuróticas que se expressam em autoritarismos reactivos aos seus sentimentos de inferioridade e às suas frustrações que descarregam nas pessoas, como os militares, indefesas e submissas.

O DSPT,resultante do assédio moral sobre o trabalhador, é causa de graves consequências físicas, psicológicas e sociais com efeitos prejudiciais na actividade laboral; origina, na vítima, doença somática em zonas preferenciais, tais como a pele (eczema), o aparelho respiratório (asma), o aparelho cárdio-circulatório (arritmias, hipertensão arterial), o aparelho digestivo (úlceras gástricas e duodenais, discinesias); diminui a imunidade com consequente receptividade a graves infecções, — a tuberculose pulmonar é uma delas. Origina também psicopatologia (ansiedade, depressão, insegurança, fobias, etc.). É causa de perturbações laborais por desmotivação, com efeitos na qualidade e na quantidade, diminuíndo a produção; atinge a antroposofia estruturante de todo ser-humano.

Conhecidos estes efeitos deletérios e as suas amplas consequências, há que suprimir a causa, mas esta decisão é apanágio do governante; a pessoa que chefia deverá ser escolhida criteriosamente entre gente emocionalmente forte e equilibrada que tenha a capacidade de sentir, em Si, a interioridade dos trabalhadores para que os possa motivar a trabalhar para o objectivo comum, com entusiasmo, com emoção, uma emoção que estimule a acção.

Chefiar não é dominar nem é criar stress; o stress incapacita porque rouba motivação e dá doença. A chefia deve ter autoridade forte feita de assertividade mas, para a ter, não pode ser autoritária.

Não pode haver desenvolvimento válido com silenciados e oprimidos.