sábado, 15 de maio de 2010

Quando o Calor Mata

Quando a temperatura atmosférica sobe, ultrapassando ou aproximando-se dos 30ºC, estabelece-se uma situação ambiental desconfortável para o ser humano em geral e de perigosidade para as crianças de idade inferior a 5 anos e para os idosos. Estes são particularmente vulneráveis por:
1. Declínio funcional da termo-regulação, condicionante de frágil reactividade homeostásica.
2. Embotamento da sensibilidade da sede, não obstante a oligosialose por aptialismo estar quase sempre presente como causa de disfagia com “boca seca”.
3. Sudação abundante e consequente desidratação com hipernatrémia, oligúria, urinas concentradas, náuseas, cefaleia e fadiga, síndrome esta agravada pela perda do hábito de ingerir água que seria compensadora da excessiva eliminação diaforética.
Os idosos perdem, muitas vezes, a sensação da sede.
A oligúria e a consequente azotémia que, não raras vezes, parecem vaticinar o coma hiperosmolar conduzindo-nos ao diagnóstico de insuficiência renal, cedem rapidamente ao aporte hídrico endovenoso.
4. Multimorbilidade com frequente predomínio de doença cardiovascular, doença renal, alcoolismo, obesidade e vícios metabólicos, associada a iatrogenia por recusável polipragmasia terapêutica (fármacos anti-arrítmicos, hipotensores, diuréticos,AINS, hipoglicémicos, antidepressores, ansiolíticos, neurolépticos e outros)

Relembremo-nos que, no Idoso, diagnóstico é o que prevalece num terreno de multimorbilidade e que será a doença que predomina a que exclusivamente deve ser alvo de farmacoterapia.

Os efeitos deletérios do calor expressam-se por desidratação consequente à diaforese e traduz-se em fatigabilidade, tonturas, náuseas, cefaleia, polipneia, taquicardia, síndrome confusional, hipotensão e, se o Doente não for socorrido com urgência, surge a lipotímia ou até a síncope e a morte. Esta crítica situação exige, imprescindivelmente, medidas urgentes; contudo, o Doente deve ser colocado, entretanto, num ambiente fresco e deve ser envolvido por toalhas molhadas com água fria, principalmente na cabeça e na região abdominal e, concomitantemente, ingerir água e sumos de fruta.
Como em toda a doença, também nesta patologia a profilaxia é a atitude de excelência; sempre que há notícia meteorológica de calor excessivo, o ambiente deve ser mantido com temperaturas nunca superiores a 25ºC por um sistema de ar condicionado; o Idoso deve vestir-se com roupas largas, de algodão ou de linho e de cor branca ou clara; se sentir calor e transpirar, deve duchar-se com água à temperatura do corpo e, sem mudanças bruscas, diminuír progressivamente a temperatura do banho até que a água fique fria; a ingestão de água, sumos ou leite frios é incontornável, ainda que o Idoso não sinta sede. Porque favorecem a desidratação, as bebidas alcoólicas devem ser excluídas e as açucaradas, os condimentos e as dietas com ausência de sal ( cloreto de sódio) devem suspender-se. O Idoso deverá evitar de saír à rua entre as 11 e as 17 horas e as viagens deverão fazer-se antes das 12 horas e depois das 18 horas, principalmente se o automóvel não tiver a eficiência dum ar condicionado.

Na ausência de patologia o Idoso tem sede, uma sede local com oligosialose caracterizada por diminuição da salivação e resultante não só da involução anatomofisiológica das glândulas salivares consequente da perda de massa protoplásmica metabolicamente activa (células), mas também do progressivo aumento da mono-amino-oxidase (MAO) directamente proporcional à idade cronobiológica do Idoso. Numa visão de consciência teleológica, o aumento da MAO aumenta a sede e diminui a diurese, o que favorece o equilíbrio da balança hídrica, mas também condiciona uma depressividade por degradação das catecolaminas e das indolaminas.
Sintetizando, perante esta complexidade de aparentes incongruências biológicas, salienta-se a inevitabilidade de insistir para que o Idoso beba líquidos, obrigatoriamente em tempo de calor; para que evite expor-se ao sol entre as 11e as 17 horas; para que use ar condicionado; para que use roupa ligeira e larga.
Com estas medidas que devem ser integradas nos hábitos do Idoso, a qualidade de vida existencial melhorará e serão evitadas doenças e também a morte causada pelo calor que, em cada ano, mata milhares de seres humanos.