sábado, 14 de julho de 2012

Adenda/Comentário à conferência “Seniores – um novo estrato etário e social” de Daniel Serrão


O corpo, com a funcionalidade e as factualidades que lhe são inerentes, é o corolário do nosso pensamento e da nossa emoção.

A motricidade (locomoção) é consequência directa de aptidões periféricas, o mesmo é dizer, é consequência da possibilidade do sistema músculo-ósteo-articular mas, este não funciona sem as aptidões centrais, quero dizer, sem a capacidade  do sistema nervoso central, isto é, sem que o cérebro segregue pensamento e emoção (motivação). São com estas tres acções (cognição, afectividade e motricidade) que o Ser humano, em dialéctica e situado no espaço e no tempo, elabora todos os comportamentos e estes só serão saudavelmente assertivos se as acções se expressarem em alostase/homeostase porque, quando uma destas acções está perturbada as outras estarão comprometidas e, em consequência, os comportamentos fragilizam, perturbam-se também.

É neste contexto que deve ser meditada e estudada a senescência do Ser humano.

O que caracteriza o envelhecimento é uma progressiva mudança comportamental, expressa  em perturbação da relação inter-individual, traduzida em perdas de autonomia e de independência, com alteração da comunicação; é um declíneo dos comportamentos e é muito mais um neuroticismo que somatismo.

Afirmar que ”não é o envelhecimento corporal que conta, é o envelhecimento do cérebro” ou que  “os corpos podem estar perfeitos mas o cérebro deixou de funcionar porque envelheceu” ou ainda  “As pessoas são cérebro...”, não é correcto, são alienantes incorrecções. Então, o cérebro não será também corpo? Não é matéria neuronal?  Não é massa protoplásmica metabolicamente activa?
O número dos idosos é muito superior ao dos dementes; corolariamente, o Idoso não só não é senil por ser demente, como também não é demente por envelhecer.
Uma coisa é doença, outra é senescência; e diagnóstico é o que predomina numa pessoa perturbada e/ou com multimorbilidade. Este critério afasta a iatrogénica, indesejável e funesta polipragmasia terapêutica.

Considerar a Pessoa senil por ter atingido a idade de 65 anos é também aberração social; este conceito é convenção que não só tem por objectivo satisfazer interesses políticos sócio-económicos despidos de humanismo, como também injuria valores antroposóficos.
Velhice não é uma idade, não é patologia; é comportamento.
O Ser humano possui um corpo que lhe confere existência por Ele vivida em comportamentos. Ele senesce no tempo medido e amadurece  em tempo vivido; há idosos mais envelhecidos que velhos, envelheceram mas não amadureceram.
Em actividade  vivemos e “morremos” em inactividade. Existir sem viver a existência é existir esquecido numa ante-câmara da “morte”; há idosos que existem, mas não vivem.
 Os senescentes sofrem, sucessivamente, de: diferença, marginalização, isolamento, indiferença, solidão, depressão, silêncio de ruína, esquecimento, falência do corpo, desistência, “morte”.
Este perturbante conteúdo dos tempos finais da existência  do Idoso traduz-se em lágrimas que inundam a sua interioridade mas raramente chegam aos olhos até que, no estádio de “falência do corpo”, a doença seja manifestada e venha cumprir a “desistência” e justificar a “morte”.

Quando a Sociedade tomar consciência de Si e o permitir,
Ser Velho poderá ser, para todos, um privilégio e,
Ser Jovem tem de ser um compromisso.