sábado, 8 de outubro de 2011

O Homem, A Cidade, A Paisagem, A Planície, A Sociedade

O que faz a Cidade é a relação entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do seu tempo. Os acontecimentos são a factualidade comportamental do Ser humano, são a cultura que cresceu no espaço da Cidade, através do tempo, por Ele vivenciada como actor e expectador. O que faz a Cidade é uma dialéctica emocional de causalidade recíproca.

Também a Paisagem não foi o Ser humano que a fez, mas é Ele que a interpreta e a vive, moldado por ela, que a reabilita e conserva emocionado pela ambiência; isto faz entender as diferenças entre as interioridades do Poeta ou do Pintor alentejano e as do minhoto, como também a diferença dos comportamentos do algarvio e do beirão. É por isto que destruir gratuitamente a Paisagem é um atentado criminoso contra a Humanidade e a Natureza; é um desequilíbrio irreversível, projectado num futuro já hoje presente, que adultera as relações humanas.

E ainda a Planície de lonjuras, o Alentejo, envolve-nos de silêncios e melancolia, de paralisia nostálgica, ilusão e fantasia insistentemente renovada por sucessivos enganos, de espaço e doutros; a sua alma tem uma componente sebastiânica e está enfeitiçada pela mentira. Esta é a interpretação de quem a interioriza com a criatividade que Ela oferece a quem a vivencia. É de uma riqueza inebriante, de um êxtase emocional, em que se intrincam ilusões da Realidade com realidades da Ilusão e onde um misticismo estético nos envolve na imarescível quietude da Tarde.

Ruinosamente, o que hoje predomina e caracteriza a sociedade tida convencionalmente por “civilizada”, a nossa Sociedade Civil, é a avidez insaciável de ilícitas riquezas, de alienantes gozos, é o incêndio das sensações, é o triunfo dos instintos, é o orgulho do luxo na ausência do bom gosto, são os crimes do dinheiro, é a mentira convencional, é a besta primitiva animal e brutal convencionalmente mascarada em refinada elegância e forma de maneiras, vestida de smoking, é a ignorância; é o não-saber que a fundamental virtude do dinheiro é possuí-lo em suficiência (e não mais) que nos permita não ter preocupações em o ter, as quais são diferentes para cada qual, para que, libertos e em exaltação afectiva, possamos ser a glória do Trabalho que redime e eleva, e nunca sermos as vítimas embrutecidas do trabalho que escravisa, envilece e destroi. Quem trabalha com Amor, consciente que ajuda o Outro, é feliz, Felicidade alicerçada no elevado sentido social. Quem trabalha exclusivamente por dinheiro não tem dignidade e é escravo, porque nunca se sentirá justamente pago. O Trabalho não se vende, ele vale sempre mais. O trabalhador recebe o convencionado para poder trabalhar em Liberdade.