segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

É já tarde para bem envelhecer

O Ser-Humano deve consciencializar-se do seu senescer e meditar na velhice que o espera no futuro para que, com antecedência, aprenda a envelhecer com a melhor qualidade de vida existencial possível, nas suas vertentes biológica, psicológica e social. O Idoso não deve ser avaliado nem ele mesmo se deve avaliar pelo que perdeu mas sim pelo que resta; porém, mais importante é o que ainda vai ser adquirido através do seu viver existencial, preferencialmente com maior investimento em valores espirituais que nos materiais nos quais se consubstancia a precaridade; quem investe apenas nestes vai entrar em falência em idades senis. Viver é uma permanente emergência continuada do "começar" porque só está vivo e continua vivendo quem intencionalmente ainda vai viver. A velhice é uma perturbação desta permanência; é uma inadaptação ao "começar"; é um início de morte; é uma desistência porque morrer é desistir de existir e de viver a existência. Amadurecemos no tempo vivido mas envelhecemos no tempo medido, porque em actividade vivemos e morremos em inactividade.

A psicopatologia ocupa-se da relação perturbada; o seu modelo estrutural é a neurose que é uma doença da comunicação. A neurose mais frequente no velho é a depressão cuja cura se obtém fundamentalmente pela relação empática; o fármaco anti-depressivo actua principalmente no sintoma e revela-se eficiente só e apenas quando investido de intenção, intenção criada pelo médico e introjectada pelo Doente. A terapia tem de ser psicológica e filosófica porque no Idoso deprimido vive, em permanência, a dialéctica entre Eros e Thanatos. A comunicação e a compaixão são fundamentais na relação terapêutica; a relação entre o médico e o Idoso-Doente conduz a um estado de osmose afectiva que exige do médico mais Arte que ciência.

Essencialmente são quatro as coordenadas que determinam a saúde do Idoso:

  1. Informação aos jovens e aos velhos;
  2. Valorização e aproveitamento das faculdades que restam no Idoso;
  3. Reintegração do Idoso no sistema social e comunicação entre o Idoso e a comunidade;
  4. Felicidade que resulta do equilíbrio bio-psico-social.

Quem ama e é feliz não é doente ainda que tenha doença.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

A Sede no Idoso

Numa visão bio-física, o envelhecimento do Ser-Humano caracteriza-se pela perda de massa protoplásmica metabolicamente activa, isto é, pela perda de células e, consequentemente, por declínio fisiológico; a estas mudanças biológicas outras se juntam, - são reacções que sendo perturbantes, são também homeostáticas como, por exemplo, o aumento da mono-amino-oxidase (MAO) directamente proporcional à idade cronológica do Idoso. Estas mudanças constituem o fundamento dos comportamentos que paulatina e progressivamente se desenvolvem na Vida existencial, através da senescência; refiro-me ao beber, à depressividade, à diurese, à sede e a outros.

Na ausência de patologia, o Idoso tem sede, uma sede local com oligosialose que se caracteriza por diminuição da salivação (aptialismo) e que resulta não só da involução anatómica e fisiológica das glândulas salivares, mas também do aumento da MAO, enzima que degrada as catecolaminas o que, por si só, aumenta a sede, mas diminui a diurese; consequentemente e respectivamente repõem e poupam a massa hídrica, isto é, aumentam-na.

Esta hipotrofia e declínio das glândulas salivares conjugada com o progressivo aumento da MAO explica a simultaneidade, no Idoso, da sede e da depressão; a diminuição da diurese tem originado alguns critérios errados neste contexto, - a administração de diuréticos os quais, obviamente agravam a situação. Toda a farmacoterapia do neuroticismo depressivo no Idoso, nomeadamente os inibidores da MAO (IMAO), aumenta as monoaminas biológicas e este aumento das catecolaminas e das indolaminas inibe a sede e melhora o estado depressivo, mas também aumenta a diurese o que pode agravar o desequilíbrio da balança hídrica pelo que é indispensável que o Idoso, mesmo na ausência da sede, beba água, sumos,infusões e outros líquidos.

Numa visão neuropsicológica, imprescindível nestas reflexões, a sede, esse interior grito biológico da homeostasia, condiciona a necessidade e a motivação que despertam o Idoso para o comportamento primário reequilibrante, o de beber; este psicodinamismo encontra a sua sede no hipotálamo que é a área encefálica da necessidade e da motivação e que é integrador dos sinais internos homeostáticos juntamente com o sistema límbico e o córtex órbito-frontal, circuito de interligação de todas aquelas áreas na psicofuncionalidade as quais são alvo de hipotrofia, hipofunção, inibições sociogénicas, lesões anatómicas, de factores condicionantes de variados patomorfismos, nomeadamente deste aqui referenciado.

Nos anos 50 do século passado tive na minha práxis médica alguns doentes então considerados idosos por terem mais de 65 anos; eram doentes mais envelhecidos que velhos que sofriam de aptialismo sem patologia conhecida como a síndrome de Sjögren, a diabétis, a desidratação, nefropatias, avitaminoses; alguns eram angustiados, outros (a maioria) eram dependentes do tabaco. Havia, então, no universo farmacêutico, ampolas injectáveis de "extracto de placenta" produzidas num laboratório português conhecido por Seixas Palma e por um outro suíço, laboratório Berna. O extracto de placenta tinha uma potencialidade notável não só na cura da oligosialose/aptialismo, mas também noutras situações patológicas tais como úlcera do colo do útero, úlceras varicosas, e outras. Mais tarde, ainda na década de 50, tive a oportunidade de verificar alguns notáveis sucessos de Paul Niehans que, em Genêve, procedia a terapias semelhantes mas mais complexas.

A Pluridimensionalidade da Morte

Para aceder ao trabalho A Pluridimensionalidade da Morte em versão PDF, por favor clicar aqui

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A depressão na comunidade envelhecida

No Idoso senil são frequentes delírios que acompanham depressões reactivas monopolares manifestadas na defesa do valor narcísico.

São depressões relacionadas com perdas de forte colorido afectivo, com incidência e fixação no Próprio - expressão de perda da imagem narcísica idealística.

Estas características condicionam uma depressão predominantemente sociogénica, por isso de início tardio e precedida de isolamento (comportamento do Próprio) ou consequente à marginalização que a sociedade impõe ao Idoso.

Esta entidade psicopatológica, sendo quási sempre uma associação da continuidade à cronicidade, antagoniza a denominação "início tardio" não obstante o seu início estar relacionado com o aumento da MAO que acompanha o aumento da idade, e situar-se habitualmente nos tempos post-aposentação quando o Ser-Humano perde estatuto social numa visão antroposófica.

São os laços sócio-afectivos que constituem as sólidas malhas da dialéctica do Homem situado e que pertencem predominantemente ao seu "mundo" do trabalho.