segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Essencialismo do Medo

O Medo ancestral iniciado pelo recém-nascido no impacto ambiental ao iniciar a sua Vida existencial, quando se situa no espaço surrealista incomensurável, de enormes sombras objectais que contaminam o inconsciente ainda puro, quero dizer, vazio, sem luz, sem tempos, sem espaços, é estruturante, arquetípico, livre de consciência e de racionalidade, persistente e antecipado à cognição; é “psicomatéria” de futura neurose fóbica, pavorosa para o ser perturbado anfibológico que por desventura sofra, sem o contacto maternal, a relação conflituosa remanente de duas acções – a afectividade e a cognição.
O Medo afirma-se independente da cognição, em paralelo e em analogia com o inconsciente que age nas obscuridades da Vida existencial sem interferência do consciente e, quase sempre, sem que este venha a manifestar consciência desta factualidade; a taciturnidade que resulta deste processo é sepultada no subconsciente, em sentimentos que não deixam de escurecer a interioridade e moldar os comportamentos, a comunicação. O que a emoção impõe, a cognição rejeita e o que é óbvio para a racionalidade, é desprezível para a emoção; a potencialidade rápida e invasora da emoção impossibilita a decisão porque a esta se antecipa, factualidade que, em jurisdição, poderá defender algumas inimputabilidades.
Em crise, o fóbico pensa mas pensa mal porque submetido à emoção desequilibrante; necessita imprescindivelmente de auxílio, de terapias psicanalíticas e cognitivas, como as de Token e as de Beck, entre nós defendidas por Adriano Vaz Serra, Afonso de Albuquerque e outros, visando um controle sobre a amígdala e o córtex, para uma adaptação á circunstância patogénica.

O Ser Humano ainda é arcaico; os seus comportamentos são supostamente o produto de conflitos entre camadas cerebrais sobrepostas de diferentes idades filogenéticas (hipotálamo/tálamo, hipocampo/amígdala e o recente neo-córtex): o córtex pensa e coordena, o sistema límbico condiciona memórias e emoções, a camada reptiliana dinamiza o homem instintivo. Há comportamentos no fóbico que, em crise, emergem em homologias com os de espécies taxonómicas afins, devido a fenómenos regressivos que acompanham o ataque de pânico.

A racionalidade, por si só, não contém todas as soluções para o equilíbrio biopsicossocial, para uma adaptação que tenha por corolário a satisfação da Vida existencial do Ser humano; a intuição, chegada na sabedoria arquetípica contida e esquecida no inconsciente, é outra solução; há ainda soluções encontradas no universo dos afectos e concretizadas na Arte. Estes três factores, considerados em conjunto, constituem as três atitudes, génese de satisfação existencial: a científica, a intuicionista e a artística.