segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Caminho


A caminhar procuro
sem ter tempo de parar.

Tenho medo de parar
necessidade de cansar
que descansar é desistir
é matar
o desejo de chegar
que justifica a existência
em continuidade de permanência;
não o desejo de chegar
mas o de caminhar
sem nunca chegar.

Caminhar para o sonho,
para o Onde que não alcanço.

O que alegra não é o caminho,
é a caminhada que faz o caminho,
é o perpétuo aproximar
pavimentado de esperança
realizada
em realizações continuadas
e nunca terminadas.

É  Caminhar  Cansar  Viver e Morrer
dentro da esperança
sem nunca desesperar.

sábado, 8 de outubro de 2011

O Homem, A Cidade, A Paisagem, A Planície, A Sociedade

O que faz a Cidade é a relação entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do seu tempo. Os acontecimentos são a factualidade comportamental do Ser humano, são a cultura que cresceu no espaço da Cidade, através do tempo, por Ele vivenciada como actor e expectador. O que faz a Cidade é uma dialéctica emocional de causalidade recíproca.

Também a Paisagem não foi o Ser humano que a fez, mas é Ele que a interpreta e a vive, moldado por ela, que a reabilita e conserva emocionado pela ambiência; isto faz entender as diferenças entre as interioridades do Poeta ou do Pintor alentejano e as do minhoto, como também a diferença dos comportamentos do algarvio e do beirão. É por isto que destruir gratuitamente a Paisagem é um atentado criminoso contra a Humanidade e a Natureza; é um desequilíbrio irreversível, projectado num futuro já hoje presente, que adultera as relações humanas.

E ainda a Planície de lonjuras, o Alentejo, envolve-nos de silêncios e melancolia, de paralisia nostálgica, ilusão e fantasia insistentemente renovada por sucessivos enganos, de espaço e doutros; a sua alma tem uma componente sebastiânica e está enfeitiçada pela mentira. Esta é a interpretação de quem a interioriza com a criatividade que Ela oferece a quem a vivencia. É de uma riqueza inebriante, de um êxtase emocional, em que se intrincam ilusões da Realidade com realidades da Ilusão e onde um misticismo estético nos envolve na imarescível quietude da Tarde.

Ruinosamente, o que hoje predomina e caracteriza a sociedade tida convencionalmente por “civilizada”, a nossa Sociedade Civil, é a avidez insaciável de ilícitas riquezas, de alienantes gozos, é o incêndio das sensações, é o triunfo dos instintos, é o orgulho do luxo na ausência do bom gosto, são os crimes do dinheiro, é a mentira convencional, é a besta primitiva animal e brutal convencionalmente mascarada em refinada elegância e forma de maneiras, vestida de smoking, é a ignorância; é o não-saber que a fundamental virtude do dinheiro é possuí-lo em suficiência (e não mais) que nos permita não ter preocupações em o ter, as quais são diferentes para cada qual, para que, libertos e em exaltação afectiva, possamos ser a glória do Trabalho que redime e eleva, e nunca sermos as vítimas embrutecidas do trabalho que escravisa, envilece e destroi. Quem trabalha com Amor, consciente que ajuda o Outro, é feliz, Felicidade alicerçada no elevado sentido social. Quem trabalha exclusivamente por dinheiro não tem dignidade e é escravo, porque nunca se sentirá justamente pago. O Trabalho não se vende, ele vale sempre mais. O trabalhador recebe o convencionado para poder trabalhar em Liberdade.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Inquietação versus Psicanálise


Em mim, em quem tenho sido e em quem sou, vive a saudade de Quem me sonho, o que inquieta cada instante do meu existir.

A impertinente megalomania flagela o homem que sou, dimensionado aos espaços e tempos em que me situo, através da vida existencial, submisso à memória conferida pela Consciência Teleológica da Espécie, enquanto aspiro ao Homem situado no Tempo-Espaço, ao Homem situado na Eternidade.
São as dimensões e as insuficiências do homem concreto que permitem o sonho que me pensa, sem me abismar no absurdo.

Eu, que estou pensando Universalidade estou, conscientemente limitado à minha exiguidade, a sonhar delirantemente o Homem que me vive.

Serei eu homem Real? Sou certamente um homem existente, corporalmente existente; um homem validamente concreto na minha personalizada aparência.

Qual a realidade do Eu?  Pensar-Me Real não será sonho? A realidade não será apenas um conceito sem correspondência a uma realidade? Será Verdade o que penso? Mas, se fosse Verdade o que penso ou o que sonho já não pensaria, por supérfluo. Será que  teimo em viver euforicamente a insatisfação mágica da procura, na inconsciência da minha frustração?

A dúvida e a insatisfação são bem mais sãs que a sua ausência, a despeito da apregoada bem-aventurada  pobreza evangélica; no entanto, estou convicto que as ideias de Eternidade e as de Essencialidade são  o produto mais perfeito que o Processo Mental constroi, o qual vigoriza a Obra do Homem, na sua criatividade de demiurgo.

Estas equações da consciência constrangem-me a uma viagem na interioridade do existir, confrontando-me com as tres camadas da psique: o inconsciente, o consciente e o sub-consciente.
A inconsciência é a “psicomatéria” da Essência do Ser, é espiritualidade; é Eu inato, inexistente, imaterial, que, em evolução ascendente para o Limite, é mudado/acrescentado pela consciência durante a vida existencial.

A consciência é um psicoprocesso do Ser humano inerente à vida existencial; é condicionada pelo inconsciente e pelas memórias teleonómicas da Espécie. A consciência não é um produto do cérebro mas é este que, tomando conhecimento dela, a anuncia; através do Processo Mental, ela impressiona o cérebro que, na sua reactividade bioquímica, gera pensamento emocional e, pensando o pensamento, toma conhecimento dum sentimento que é a consciência.

O subconsciente é um “armazém” de realidades conscientes inibidas, reprimidas ou rejeitadas.

Mente não é cérebro; deve ser entendida como Processo Mental, “rapport” entre inconsciente e consciente, acção entre o Ser e o cérebro.

Em síntese,
O Inconsciente é “substância” espiritual da Vida.
O consciente e o Subconsciente são “substâncias” psicológicas da existência.
O Cérebro é o órgão corporal mais relacionável com a Vida; é o único órgão que concede ao Ser humano conhecimento de ter consciência de que é consciente de ser consciente de Si.

domingo, 7 de agosto de 2011

VERDADE e outros Ilusionismos

O Artista Encontra.
O Cientista Procura.
O cientista acredita na Ciência.
O Religioso acredita no Dogma.
O religioso e o cientista são religiosos; aquele religa-se a crenças dogmáticas e o segundo religa-se a crenças científicas.

Ciência é emergência do erro continuado que a sustenta, na sua tarefa de autocrítica correctora do precário, mas necessário e conveniente erro formulado. É a autocrítica científica que dinamiza o Cientista a fazer Ciência; ele faz Ciência das ciências, faz Epistemologia.

A crítica exige racionalização. O racionalista nunca é detentor da Verdade, mas sim e apenas de verdades, o que o perpetua nos seus raciocínios; por isso, discute verdades, as dos outros e a sua. Assim, acredita e faz crer que se aproxima da Verdade.

O iluminista é um racionalista que se esforça por ser claro, esclarecedor, compreendido, ao invés do racionalista convencional que ortodoxamente é hermético, escuro, eloquente e, por vezes, defende-se escondendo a ignorância na erudição.

A Verdade é Limite, é Absoluto, pelo que é inatingível, eternamente inacessível ao Ser humano que, enquanto cientista, anancasticamente a procura. O religioso não a procura porque, alegada e pretensamente, já a possui através do dogma, da crença irrefutável, tranquilizadora, paradísica. O artista Encontra-a na Criatividade, na Revelação, na Dádiva, - imagem e semelhança da obra da “divindade”, símbolo conceptualizado de Vida, de cada Ser humano.

Paradigma de Mudança

O tempo é de crise; a “substância” da crise é mudança, - mudança em viver a existência. A Hora é instável; o futuro nela contido é feito de insegurança angustiada, de perda de élan, de pessimismo.

Todo o Ser humano anela por uma vida existencial progressivamente melhor. Todo o Ser humano sofre injustiças que despertam ódios raras vezes inconsequentes, quase sempre de consequências dramáticas para a sua interioridade, expressas em reactividades comportamentais, estas também manchadas por um mimetismo injusto.

Estes comportamentos são emocionais e, por o serem, fogem à racionalidade pelo que o injustiçado tem dificuldade em compreender e em suportar a injustiça que o agride, atitude que lhe seria muito menos penosa que combatê-la com acções adulteradas (pensamentos, sentimentos e movimentos), com as quais elabora aqueles comportamentos reactivos, num contexto de acção-reflexão contaminado; melhor e mais digno é sofrê--la que praticá-la.

Este cenário, de desequilíbrios sem vislumbres de capacidades reequilibrantes, constitui o Estado do Mundo globalizado; conhecidas as suas causas, será uma inevitabilidade a mudança deste modelo sócio-económico. A relevância determinante desta complexa realidade estará no facto de a nossa inteligência e saberes se terem desenvolvido ao serviço do egoísmo, do ódio, da ambição exclusivamente material e na ausência de Espiritualidade que é a nossa Essencialidade, “cerne” dos verdadeiros valores humanistas que promovem, rumo à “Perfeição”.

Cada Qual terá de ser consciente de Si, dos limites e precaridades das suas possibilidades/capacidades materiais, para que não as ultrapasse acicatado pela ambição ilícita; consciente também das insuficiências dos outros (das materiais e das espirituais) para que, no alcance dos seus desejos, os realize sem atropelos injustos; e ainda terá de ser também respeitador das diferenças entre si e os outros, compreendendo-as e aceitando-as para que, livre de emoções invejosas que geram ódios, ressentimentos e infelicidade, admire e se congratule com a riqueza desses outros.

A meditação deve ser o sustentáculo deste novo paradigma no qual o Ser humano, através do pensamento dinamizado por nobres emoções, encontrará a dignidade de outros parâmetros de riqueza. A materialidade não deve continuar a ser apanágio exclusivo do”poder”; ela é, por definição de princípio, tendencial e progressivamente insatisfatória e sempre precária pelo que será necessário, imprescindível, mas apenas suficiente, que cada Ser humano compreenda que só o É entendido em globalidade sistémica biopsicossocial e espiritual, situado no Tempo e nos espaços entre outros, em dialéctica, a viver esta sua existência em “osmose” com o viver existencial de todos os outros; compreenda que ele é os outros, os outros são ele, todos somos nós.

Há muita “pobre gente rica”, entre a qual, provavelmente, alguns de nós se encontram, que é invejada por muitos de nós, por inconsciência, por carência de ética ou por défice de lucidez, - invejas escondidas e desenvolvidas num fraudulento “altruísmo” simulado e politizado em ideologias que negam a sua alma, a sua essencialidade, quando se concretizam, submissas, a sub-reptícios interesses “políticos” e que, para sobreviverem, procuram na eloquência e dentro de si mesmas a sua própria e pretensa “verdade”; justificam-se protegidas por convenções sociais e cometem religiosamente a ilegitimidade e a desonestidade de se apropriarem de materiais favoráveis e regeitarem os ameaçadores.

É desejável e inevitável que cada qual se afaste de Si próprio, na aproximação dos outros, para que experimente a Felicidade nas felicidades dos outros, naquele instante em que os ajuda a serem felizes; que cada qual lute, durante toda a vida existencial que lhe resta, pela realização dos seus sonhos, sem invejas, sem ódios, sem ressentimentos, vaidades, orgulhos e egoísmos que entristecem e aniquilam. É inevitável que, para nossa Felicidade, o conteúdo do tempo que chega seja de Amor – auto estima e estima pelo outro; que a Solidariedade – o novo rosto da Justiça, da Amizade, da compreensão, da honestidade, da Alegria e do Amor, seja uma constante no modelo de mudança que emerge no tempo que chega; ela mostrar-nos-á a grandeza do Ser humano fundamentada na dimensão espiritual do Ser e jamais na dimensionalidade dos “teres”.

O “ter” traiu-nos a todos, em qualquer um e em todos os cantos do Planeta.

Ninguém é corrupto por ser ou querer ser espiritualmente rico; a corrupção está intimamente ligada a riquezas materiais. Só o rico em espiritualidade pode atingir, em licitude, “riqueza” material que, quando sobeja, é devolvida àquela comunidade que legitimamente lute para a obter; nunca a riqueza deverá ser dada, mas sim honestamente conquistada por Quem a deseje e sempre com o maior respeito e compaixão pelos outros. Que nunca se excluam aqueles que, por défices físicos ou psíquicos ou por retardamento na evolução espiritual, não possam estar na “luta” por melhor qualidade de vida existencial; eles são a génese da nossa Felicidade, encontrada no acto de os ajudar a serem felizes.

...”de cada um, conforme as suas capacidades”
“a cada um de acordo com as suas necessidades”...

domingo, 15 de maio de 2011

A Maior Aldeia do Mundo

É facto incontestável a população mundial ter crescido progressivamente e ser cada vez mais idosa, fenómeno característico dos países tecnologicamente desenvolvidos e também dos países em vias de desenvolvimento, como já foi o nosso e deveria continuar a ser se a regressão que o lançou para os alvores do séc. XX, fosse evitada.
Quando uma população envelhece ela tem menos jovens por diminuição da fecundidade e consequente baixa de natalidade, mas também tem mais velhos porque os adultos vão envelhecendo, engrossando o número de idosos os quais vivem a sua existência durante mais tempo. É um envelhecimento não só pelo aumento absoluto do número de idosos, mas também e principalmente é relativo pela diminuição do número de jovens.
Uma sociedade assim tende para a estabilidade, a quietude e a inactividade onde germinam sinais de morte, anunciada pelo declínio da inovação e da criatividade, assim como também pelo declínio do dinamismo caracterizado por desequilíbrios com capacidades de reequilibração. Nesta sociedade não há evolução, expressa por hesitações, paragens, retrocessos e progresso; não há crescimento e quando uma sociedade não cresce, ela envelhece porque, só pode crescer quando a natalidade aumenta e o número de jovens cresce. Numa sociedade envelhecida há mais caixões que berços, facto que se traduz por graves consequências sócio económicas, as quais poderão vir a ser minimizadas por incremento da fecundidade/natalidade, por uma imigração criteriosa e principalmente por uma governação digna que terá de passar pelo despedimento do governante que conduziu o País ao mais baixo nível sócio-económico e moral em que se encontra: desemprego; queda de produção e de exportações: desvios para sustentar o despesismo vergonhosamente injusto do corpo estatal, a par de gastos megalómanos e comportamentos paranoides defendidos pelo próprio, em inflamados discursos “hitleriformes”; dívida vertiginosamente crescente que penhorou o País; estruturada carência de honestidade; - a inteligência, a esperteza manhosa, a resiliência, a veemência ao serviço da mentira!
Estas e outras qualidades não são boas nem más; o uso que se faz delas é que é bom ou mau.
Foi assim que o País foi arruinado e povoado por idosos sem vigor anímico, intelectual e físico, idosos que paulatinamente adoecem solitários e são encontrados já cadáveres e já putrefactos. Que contexto kafkiano, apocalíptico!
O País está pobre, despovoado (difícil é que não se fuja d’aqui), sem élan vital; se assim prosseguir, entrará certamente no “Guiness” como a “Maior Aldeia do Mundo”.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sonata do Cauchemar

Portugal, este país adulterado na destruição de tanto ser explorado por egoísmos e orgulhos, de governantes e de partidos políticos, que emanam fedentinosos individualismos, perdeu já a soberania, apagou-se como nação, anulou-se como Pátria. É apenas espaço de uma Europa, ela também em decadência porque submissa a valores decrépitos exclusivamente materiais que estrebucham na ausência de espiritualidade, desintegrados do “continuum” do Tempo, isto é, dos conteúdos dos nossos tempos n’Ele contidos, no qual os futuros existentes nos passados deslizam neste presente arruinado em que navegamos na “Barca do Inferno” pelo “Rio Acima” com saudade dum futuro cada vez mais distante por inatingível.
Resta-nos renascer das cinzas deste espaço geográfico queimado, mortificado em referências apeganhadas à imaginação que no passado remoto construía a História futura, bandeira de uma pátria que, ainda hoje, apesar de tudo, contém resquícios de virtualidade.
Que a Dignidade, a Honestidade, o Bom Senso, a Responsabilidade, o trabalho feito Missão, acordem as consciências daqueles que são eleitos para servir o País.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A propósito do III Congresso De Psiquiatria e de MGF

1. “Entre o Normal e o Patológico”

O conceito de “Normalidade e Patologia” deve ser recusado. A avaliação válida do Ser Humano só será possível se o pensarmos na sua dimensão holística – dimensão única e real do ser perturbável, perturbante e/ou perturbado, isto é, do ser Doente (com ou sem doença) - na sua globalidade biopsicossocial, espiritual, histórica e cultural, situado nos espaços e nos tempos desde o início da sua existência, em dialéctica e condicionado pela Consciência Teleológica da Espécie contida no Ser-Humano, considerado na sua dimensão universal, única e unívoca - conceito unificado e abrangente de todos os seres humanos.
A definição de normalidade é imprecisa, simplista, porque não é possível, no Ser Humano a viver a sua existência, determinar a fronteira entre o patológico e o normal (definir é limitar), pelo que os conceitos são confusos ou incorrectos. A noção de “normalidade” não se distingue, por ligeireza, da de habitualidade e é patogénica, é uma normopatia, neurose conotada com a hipocondríase e outras fobias.
O ser humano com a sua circunstância é os seus pensamentos e as suas emoções, génese do ser saudável ou do ser doente.


2. “Paradigmas do Corpo e da Mente”

A noção de “mente” tem-na reduzido à substrutura corporal do Ser; se por um lado a mente e o corpo são referidos como identidades distintas, por outro tem-se confundido a mente com o cérebro ou com a neurofisiologia cerebral, ignorando-se que o cérebro é corpo, órgão, massa protoplásmica, materialidade metabólica e fisiológica.
Não tenho dificuldades intelectuais em atribuír veracidade científica ao critério que considera a mente como “Processo Mental”, produto espiritual guardado no inconsciente do Ser Humano, psicodinamismo da essencialidade do Ser que age entre o Ser e o corpo (cérebro).